Contra a Amazon, 909 autores

A proposta da gigante Amazon, de funcionar como a “grande loja” de livros, esbarrou justamente em um autor. E de sucesso. Douglas Preston é um escritor de best-sellers – ou foi, até que a Amazon decidiu desencorajar os leitores a comprar livros de sua editora, a Hachette, a fim de pressioná-la a oferecer à loja online um acordo melhor para livros eletrônicos. Diante disso, ele escreveu uma carta aberta aos seus leitores pedindo que entrassem em contato com Jeff Bezos, o diretor executivo da Amazon, exigindo que a empresa pare de tornar os escritores reféns de seus negócios.

O pior veio depois.  No início desta semana, 909 escritores a assinaram, inclusive nomes familiares como John Grisham e Stephen King. O manifesto foi publicado, ontem, em página inteira no New York Times.

O impasse gira em torno das porcentagens entre o vendedor e o editor dos livros. Sem acordo, a Amazon tomou uma série de medidas, como atrasar o envio, subir o preço ou retirar o botão de pré-venda para os volumes da editora, afetando autores tão conhecidos como J.K. Rowling.

A Amazon, aborrecida com a decisão do grupo que costumava ser um de seus maiores fãs, respondeu com um ataque a Preston, chamando o escritor de romances de suspense, de 58 anos, de “presunçoso” e “oportunista”, tentando ao mesmo tempo convencê-lo e a seus colegas insatisfeitos a se calarem. Preston não se abalou, como mostrou matéria do The New York Times, assinada por David Streitfeld, publicada no Estadão de 11/08, pg B14.

O problema, na verdade, é  bem maior do que uma briga pessoal. O momento é delicado para a gigante da internet, prestes a se transformar rapidamente num império que não só vende cultura, como também a cria.

A Amazon não quer ser vista como uma entidade hostil aos criadores de conteúdo, um dos quatro grupos que, segundo o que ela divulga na página da rede sobre suas relações com os investidores, teria sido criado expressamente para servir. Mas também precisa vender a preços baratos as criações de seus autores de modo a atrair multidões de consumidores, e lucrar para satisfazer investidores.

É uma situação difícil. Para alguns, até mesmo impossível. A Amazon acaba de surpreender Wall Street anunciando que, neste trimestre, poderá perder mais de US$ 800 milhões, anulando potencialmente o lucro dos últimos três anos, em parte porque a criação de conteúdo de vídeo é cara.

Indagada sobre a rebelião dos escritores, a Amazon emitiu um comunicado que chamou novamente a atenção para a Hachette, no qual lembra a ação judicial movida pelo Departamento de Justiça contra essa e outras editoras em 2012: “Inicialmente, a Hachette estava disposta a infringir a lei para vender e- books a preços mais elevados, agora ela quer manter seus próprios autores na linha de fogo para atingir o mesmo fim.”

A publicação da carta no New York Times custou US$ 104 mil pagos por um grupo de escritores mais bem sucedidos. Lincoln Child, com quem Preston escreve em coautoria, está apreensivo. “Nem todas as histórias de Davi e Golias acabam bem para o jovem”, disse.

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