O Facebook suspendeu a conta de uma consultoria eleitoral que trabalhou para a campanha presidencial de Donald Trump em 2016. A decisão da rede social ocorreu porque a empresa Cambridge Analytica, fundada nos Estados Unidos e com uma empresa matriz britânica, obteve e manipulou irregularmente informação de 50 milhões de usuários do Facebook nos Estados Unidos.
Uma investigação conjunta do The New York Times e The Observer revela que em 2014 a empresa obteve uma base de dados de pretenso uso acadêmico e a explorou sem permissão para elaborar estratégias eleitorais durante as eleições legislativas intermediárias dos Estados Unidos. É um dos maiores roubos de informação da história do Facebook. Dois anos depois, a Cambridge Analytica, que ainda estava em poder desse poderoso material, trabalhou para a candidatura presidencial do republicano Trump, que ganhou as eleições de outubro de 2016.
A Cambridge Analytica conseguiu os dados através de um psicólogo da Universidade de Cambridge – com a qual a empresa, de mesmo nome, não tem relação. O psicólogo, o russo-americano Aleksandr Kogan, conseguiu permissão do Facebook para pedir dados aos seus usuários com um aplicativo pensado para estudos de sua disciplina. Kogan, financiado com 800.000 dólares (2,60 milhões de reais) pela Cambridge Analytica, conseguiu que 270.000 pessoas com perfis na rede social participassem e obteve dados como identidades, localizações e gostos pessoais. Por sua vez, o aplicativo lhe permitiu, de maneira derivada, acessar a informação dos amigos dos participantes originais, multiplicando até 50 milhões de usuários o alcance de seu armazenamento, como mostrou matéria do El Pais, Edição Brasil, publicada em 19/03.
Compartilhando o material com a Cambridge Analytica, o psicólogo violou as políticas de proteção de dados do Facebook. “Em 2015, soubemos que Kogan mentiu e violou nossas políticas de plataforma ao passar dados de um aplicativo utilizado pelo Facebook Login à empresa SCL/Cambridge Analytica, uma companhia que realiza trabalho político, governamental e militar em todo o mundo”, diz o comunicado feito sexta-feira pelo Facebook, assinado por seu vice-presidente Paul Grewal.
A empresa Cambridge Analytica foi criada em 2013 com o financiamento do multimilionário norte-americano Robert Mercer, mecenas republicano e considerado um dos principais pulmões econômicos da campanha de Trump. Naquela época, dois anos antes do construtor nova-iorquino entrar na corrida presidencial, Mercer investiu 15 milhões de dólares (49 milhões de reais) com o objetivo de possuir uma ferramenta que permitisse conhecer os eleitores e influenciar em suas decisões. No comando da empresa estava o britânico Alexander Nix, que dirigiu em seu país a consultora sobre mercadologia de comportamentos Strategic Communication Laboratories (SLC) e depois voltou seus olhos ao lucrativo mercado das campanhas políticas norte-americanas.
Nix chegou a Mercer através de Stephen Bannon, à época assessor chefe da campanha de Trump e que também se integrou como membro e investidor da nova empresa criada por Nix nos Estados Unidos. Durante a campanha de 2016, a Cambridge Analytica trabalhou para dois candidatos republicanos, primeiro Ted Cruz e depois Trump. Também participou em 2016 da campanha a favor do Brexit. A empresa está sendo investigada pelo promotor especial que investiga a suposta interferência russa nas eleições norte-americanas, Robert Mueller, que pediu os e-mails dos funcionários da Cambridge Analytica que trabalharam para a candidatura de Donald Trump.
https://brasil.elpais.com/brasil/2018/03/17/internacional/1521308795_755101.html