Como o Facebook mudou os Estados Unidos

Em 4 de fevereiro de 2004, nascia um site de cor azul-bebê. Criado em um dormitório de Harvard, TheFacebook.com baseava-se no desejo das pessoas de verem e serem vistas. Poucos imaginaram seu sucesso. Em 2008, o titã da mídia Rupert Murdoch chamou o Facebook de “a sensação do mês”. No ano seguinte, a The Economistad advertia que era “incrivelmente fácil o Facebook tornar-se ‘o próximo grande acontecimento’, até ser superado pelo seguinte”. 
Em vez disso, o Facebook permaneceu no topo, espalhando-se selvagemente pelos EUA e pelo mundo. Mais: comprou competidores como a rede social de fotos Instagram e o aplicativo de mensagens WhatsApp. Hoje, dois terços dos americanos adultos usam a rede social.
A esta altura, o usuário médio passa cerca de uma hora por dia nas plataformas do Facebook. Poucas empresas exerceram tão forte influência na sociedade, mudando os hábitos de as pessoas se comunicarem, reunindo contatos perdidos, moldando a percepção que as pessoas têm dos eventos mundiais e redefinindo o significado da palavra “amigo”. “Raramente mudanças tecnológicas são tão profundas que haja um ‘antes’ e um ‘depois’. O Facebook é uma delas”, diz Roger McNamee, um dos primeiros investidores da empresa e autor de Zucked, livro que está no prelo nos EUA. 
Aniversários são ocasiões para se refletir. Em seus 15 anos, o Facebook mudou os EUA de três formas notáveis. Ela redefiniu a política – Barack Obama e Donald Trump não devem pouco de suas eleições à rede. A empresa também redefiniu as atitudes de bilhões quanto à privacidade – foi lá que muita gente se sentiu à vontade para compartilhar telefones e relacionamentos. Hoje, após escândalos, essa percepção talvez esteja mudando. 
Mas o Facebook também redefiniu o que significa ser e sentir-se jovem. A empresa fez isso duas vezes: uma, com sua rede social, que se tornou passatempo e vício de universitários e alunos de colegial em meados dos anos 2000; e novamente com o Instagram, que é a droga digital da geração seguinte.
A empresa fomentou uma “economia do eu”, na qual as pessoas “supercompartilham” suas sensações e comentários. Alguns acusam o Facebook de incentivar o narcisismo e o responsabilizam por uma diminuição da atenção dos jovens. Outros dizem que ele causa ansiedade e depressão. Pesquisadores mostraram que pessoas que passam muito tempo no Facebook são mais propensas a crer que os outros se saem melhor que elas e que a vida é injusta. 
Os efeitos duradouros do Facebook na psique dos jovens só serão compreendidos em anos, mas já está claro que o Facebook mudou a interação humana. Sob a proteção de uma tela, o bullying se tornou dolorosamente comum. Cerca de 59% dos adolescentes americanos dizem que já sofreram bullying ou foram assediados online. 
O Facebook permite relacionamentos a distância, mas influi também nos mais próximos: em 2012, metade dos adolescentes dizia que seu modo favorito de falar com os amigos era pessoalmente. Hoje, esse número caiu para 32%, segundo pesquisa da ONG Common Sense Media.
Continuidade. Conseguirá o Facebook ser tão influente nos próximos 15 anos quanto é hoje? Correndo o risco de errar mais uma vez, é improvável. Em parte, porque seu impacto já é tão grande. Como toda nova tecnologia, do livro impresso ao telégrafo, as redes sociais podem ser usada tanto para o bem como para o mal. Críticos do Facebook são cada vez mais enfáticos sobre seus danos, assinalando que o Facebook vicia, é prejudicial para a democracia e poderoso demais. Já há quem o compare ao “big tobacco”, as grandes fabricantes de cigarros, e políticos já falam em regulá-lo. 
Hoje, americanos adultos passam 11,5% de seu tempo online no Facebook – 20% a menos que em 2017, segundo a Pivotal Research. O uso do Instagram está crescendo, mas não o bastante para compensar o declínio da rede social. À medida que mais pessoas se questionam se o Facebook é bom para elas, a empresa pode perder seu controle. O relacionamento continua, mas o fogo da paixão diminui. (The Economist)

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