A Apple Inc. é uma marca de luxo da tecnologia. Agora ela está se transformando em uma grife da alta moda, com um relógio inteligente que vai atenuar a linha que separa os dispositivos eletrônicos dos acessórios.
Para o Apple Watch, que será lançado em abril em alguns países, a Apple está adaptando sua estratégia de vendas para atender a novas (e divergentes) expectativas dos consumidores, como mostrou material do The Wall Street Journal, assinada por Daisuke Wakabayashi, publicada no Valor de 10/03, pg B9.
O “smartwatch” é o primeiro dispositivo da Apple a ser desenhado explicitamente para ser mostrado, em vez de guardado. Então, a Apple está oferecendo um leque incomum de opções, permitindo que os consumidores customizem a aparência – e o preço – do Apple Watch com uma ampla seleção de revestimentos e pulseiras produzidos para atender os variados segmentos do mercado. É uma mudança em relação ao lançamento do iPhone e do iPad, que vinham apenas em um tamanho e uma cor.
A versão mais cara do novo smartwatch está entre os produtos mais caros da Apple, direcionada para uma clientela acostumada ao luxo e a serviços personalizados, na maioria das vezes em um showroom privado e silencioso.
Ontem, a Apple revelou mais detalhes sobe o Apple Watch em uma coletiva em San Francisco. O modelo de alto padrão “Edition”, coberto com safira transparente e revestido em ouro amarelo ou rosa de 18 quilates, será vendido apenas em lojas selecionadas a preços que começam em US$ 10 mil nos Estados Unidos. O modelo intermediário, que terá um exterior de aço inoxidável, custará a partir de US$ 549. E os preços da versão mais barata, o modelo “Sport”, com um revestimento de alumínio, começam em US$ 349.
A Apple informou que o relógio terá uma bateria com duração de 18 horas e será capaz de fazer ligações. Na apresentação, ontem, a empresa também mostrou como o relógio pode receber notificações e ser usado para coisas como abrir portas de quartos de hotel e a garagem ou buscar letras de músicas. A Apple informou que ainda não há previsão de lançamento no Brasil.
A empresa está adaptando sua estratégia de marketing para o relógio ao oferecer novas opções de compra. As lojas da Apple estão sendo redesenhadas com a criação de um espaço onde os clientes podem reservar um horário para testar o relógio. A equipe de vendas está sendo treinada para descobrir quais modelos melhor se adaptam a cada cliente, dizem as fontes.
O Apple Watch marca o início da próxima fase da evolução da Apple como marca, já sugerida pela decisão, em 2007, de tirar a palavra “computador” de seu nome. “Será sempre tecnologia, mas a Apple é agora fundamentalmente uma empresa de estilo de vida”, diz Ben Bajarin, diretor de análise de tecnologia da Creative Strategies. O Apple Watch, com seus elementos de moda, é o “clímax” dessa transição, diz ele.
O smartwatch será o primeiro produto totalmente novo da Apple desde o lançamento do iPad em 2011 e o primeiro de uma nova categoria desde a morte de Steve Jobs, diretor-presidente da empresa, em 2011.
O conceito e o design foram conduzidos pelo diretor de design, Jony Ive, que vem liderando o desenvolvimento de produtos da empresa.
A intenção da Apple é criar mais que uma alternativa para outros smartwatches. Ela quer criar um relógio com o mesmo status daqueles produzidos pela Rolex, Patek Philippe e outros fabricantes suíços de alto padrão. Mas isso traz a tona a questão da obsolescência. Muitos usuários mantêm seus iPhones por um ano ou dois antes de substituí-los por modelos mais novos. Relógios de alto padrão, por outro lado, frequentemente mantêm seu valor por muitos anos e são passados de uma geração para outra.
Ontem, Tim Cook, o diretor-presidente, disse que o Apple Watch era o produto “mais pessoal” já lançado pela empresa.
Muitos fabricantes de eletrônicos menos sofisticados conseguiram melhorar a qualidade e aumentar os preços no passado, mas existem poucas histórias de sucesso envolvendo marcas que entraram no mercado de luxo. Em 2003, a Sony Corp. lançou sua linha de produtos eletrônicos de luxo Qualia, cobrando mais de US$ 10 mil por uma televisão feita à mão. A Sony desistiu do projeto três anos mais tarde.
Parte do problema é que é difícil vender um produto eletrônico produzido em massa baseado na exclusividade ou habilidade artesanal, atributos essenciais dos bens de luxo como bolsas de couro cerzidas à mão ou relógios mecânicos de alto padrão.
Para ajudar a se estabelecer como marca de luxo, a Apple está cortejando a indústria da moda. Ive e membros de sua equipe de design foram a Paris durante a Fashion Week em setembro para mostrar o novo produto aos principais criadores de tendências. Um mês depois, o Apple Watch apareceu na capa da “Vogue China”, elegantemente colocado no pulso da modelo Liu Wen.