Como um falso segredo, como uma novidade bem conhecida, foi apresentado ontem na Califórnia o novo tablet, o iPad mini. O objetivo da cerimônia tão anunciada para a chegada desta versão reduzida do líder absoluto do mercado de tablets foi bem resumido por Tim Cook, o presidente da Apple: “não queremos tirar o nosso pé do acelerador”.
Sem dúvida, é exatamente disso que se trata: a empresa que hoje tem a marca mais valiosa alterou sua estratégia para não perder espaço. Nesta semana, a Microsoft apresentará o Surface, o tablet com o sistema operacional Windows 8, o único com teclado acoplado no formato de capa.
Analistas de Wall Street ponderaram que o objetivo da Apple com o iPad mini não é acelerar lucros, mas impedir que os concorrentes aumentem suas fatias de mercado. O que já ocorreu no caso dos celulares, alertou a Apple. O Google já conta como o Nexus 7, tablet com tela de sete polegadas que custa a partir de US$ 199 nos EUA. O iPad mini com tela de 7,9 polegadas entra no mercado a partir de US$ 329 na versão mais simples. Na faixa de preço do Nexus, há também o Kindle Fire da Amazon. A maior rival da Apple, a Samsung tem também o seu tablet de sete polegadas.
Na apresentação, porém, Tim Cook , não quis passar recibo quanto a crescente concorrência insistindo que os consumidores não tinham interesse nos rivais, pois, segundo ele, 91% do tráfego na web por tablet vem do iPad. Cook reafirmou que 94% das 500 maiores empresas americanas usam o iPad.
Um fato é indiscutível: o quadro mudou e a Apple, pela primeira vez, está na defensiva, como notaram alguns consultores. Não adianta muito dizer que na web tudo corre pelo iPad se o vice-presidente de marketing da Apple, Phil Schiller, se dedicava na mesma cerimônia a falar mal dos concorrentes, desdenhando dos aparelhos que usam o sistema Android, do tamanho da tela “deles”, da velocidade “lenta”, quando um ano depois que a concorrência diminuiu o tamanho dos seus tablets, a Apple seguiu pelo mesmo caminho.
Outro aspecto importante é certa mudança na estratégia de comunicação. Tradicionalmente a Apple guardava segredo absoluto sobre seus novos produtos e quem queria saber a “última” da Apple deveria “comprar ingresso para o show”. Isso mudou: agora a ideia do novo produto começa a aparecer na imprensa especializada bem antes e a novidade começa a entrar no “imaginário dos fãs” com bastante tempo. O anúncio oficial apenas “oficializa” o nascimento da novidade. Até o preço é comunicado ao público com antecedência. O reinado absoluto da Apple sofreu abalos. como ela reconhece. O mundo mudou. Até no reino da alta tecnologia.