China vê menos volatilidade, mas relação tensa com Biden

A China espera menos volatilidade nas relações com os EUA no mandato de Joe Biden, mas não crê que o novo governo americano se desviará significativamente da posição de linha dura assumida por Donald Trump, segundo assessores e analistas do governo chinês. 

Até ontem, o presidente Xi Jinping não tinha comentado publicamente a vitória de Biden sobre Trump na eleição presidencial dos EUA. O Ministério das Relações Exteriores chinês também preferiu não se manifestar, limitando-se a dizer que Pequim está confiante de que “os resultados da eleição serão confirmados em consonância com as leis e procedimentos dos EUA”. 

A mídia estatal chinesa se concentrou, em vez disso, na aparente divisão interna nos EUA e na pouca disposição de Trump em reconhecer sua derrota oficialmente. “O destino da democracia dos EUA está nas mãos de Trump”, tuitou Hu Xijin, editor do tabloide ultranacionalista “Global Times”, após a projeção da vitória de Biden. “Se ele recusar esse resultado… isso terá um impacto poderoso.” 

Os pontos críticos entre o governo Trump e a China foram desde a contenção ao acesso a tecnologia americana até as políticas de Pequim para Xinjiang, Hong Kong e o Mar do Sul da China. 

Parte da mídia estatal chinesa, como o “Global Times”, manifestou otimismo cauteloso de que a tensão na relações entre as duas maiores economias mundiais possa ser sanada. Mas a maioria dos assessores do governo chinês acredita que as tensões que levaram as relações entre China e EUA ao seu ponto mais baixo em cerca de 40 anos não serão logo solucionadas. 

“Não haverá diferença significativa na gestão Biden em relação a questões relevantes, como Taiwan, Hong Kong, Mar do Sul da China, Xinjjiang, Tibete e as situações religiosas e de direitos humanos da China”, disse Shi Yinhong, professor da Universidade Renmin, em Pequim, que assessora o Gabinete chinês em relações exteriores. “Mas Biden nem de longe é tão descontrolado, vulgar e volátil quanto Trump. Portanto, pode-se esperar que ele imprima maior previsibilidade e estabilidade à política de Washington para a China.” 

Uma fonte notável de atrito tem sido Xinjiang, região no noroeste da China onde mais de 1 milhão de uigures muçulmanos foram arbitrariamente detidos. Pequim alega que seus campos de detenção são centros de treinamento vocacional voltados para conter o extremismo religioso. 

Por vezes, Trump atenuou a importância da questão enquanto tentava fechar o acordo comercial “de fase 1” entre os dois países. Mas, semanas após ter assinado o pacto, em janeiro, a propagação da covid-19 da região central da China para os EUA prejudicou tanto a economia americana quanto as esperanças de Trump de se reeleger. 

O governo Trump, além disso, passou a restringir o acesso de empresas chinesas a tecnologia americana e impôs sanções contra autoridades envolvidas na repressão em Xinjjiang e Hong Kong, onde uma polêmica lei de segurança nacional foi sancionada neste ano para tentar conter as manifestações pró-democracia. 

Entre outros focos de tensão recentes estão as vendas de armas dos EUA para Taiwan, a ilha de governo autônomo que Pequim reivindica como parte de seu território soberano, e a construção de uma ilha artificial, ordenado por Xi, no Mar do Sul da China. 

Analistas chineses preveem menos disputas geopolíticas com Biden do que com Trump, que irritou Xi com aumentos de tarifas repentinos em momentos críticos das negociações comerciais e ao chamar a covid-19 de “a peste chinesa” ou ”o vírus de Wuhan”. 

“Biden vê a China como concorrente, enquanto Trump vê a China como adversária”, disse Lu Xiang, especialista em assuntos americanos da Academia Chinesa de Ciências Sociais de Pequim. “As relações entre concorrentes são fundamentadas em regras.” 

Um assessor da liderança chinesa e que pediu para não ter o nome citado observou que Biden tem problemas mais profundos para enfrentar internamente antes de voltar a atenção para a China. 

“Os maiores problemas para Biden são domésticos, a começar pela covid, mas também a economia e a infraestrutura”, disse essa fonte. “É pouco provável que a China esteja próxima do topo de sua lista.” 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2020/11/10/china-ve-menos-volatilidade-mas-relacao-tensa-com-biden.ghtml

Comentários estão desabilitados para essa publicação