A China fez simulações de ataque contra Taiwan em seu segundo dia de exercícios militares na região, iniciados em resposta à viagem da presidente da ilha aos Estados Unidos. O Ministério da Defesa de Taiwan disse ter detectado 11 navios de guerra e 70 aeronaves, incluindo caças e bombardeiros, chineses ao redor da ilha neste domingo, 9.
Segundo a televisão estatal chinesa, “os militares simularam ataques de precisão contra alvos-chave na ilha de Taiwan e águas adjacentes”. Pequim disse que mobilizou navios de guerra e aviões de combate, entre outros, para os exercícios que devem durar até segunda-feira, 10.
Os exercícios militares começaram depois que a presidente taiwanesa Tsai Ing-wen se reuniu com o Presidente da Câmara dos Estados Unidos, Kevin McCarthy, na Califórnia na última quarta-feira, 5. Pequim havia prometido responder à viagem com medidas firmes e contundentes, e iniciou no sábado a seus três dias de exercícios. Pequim também impôs uma proibição de viagens e sanções financeiras contra grupos e indivíduos americanos associados à visita de Tsai a Washington.
O Ministério da Defesa de Taiwan disse ter detectado 11 navios de guerra e 70 aeronaves chineses ao redor da ilha neste domingo. A pasta informou que está respondendo às manobras com calma e serenidade e explicou que os aviões de guerra detectados a partir das 16h00 horas locais (5h00 de Brasília) incluíam caças e bombardeiros.
“As manobras visam estabelecer a capacidade da China de assumir o controle do mar, do espaço aéreo e da informação para criar um impedimento e um cerco total de Taiwan”, disse a televisão estatal chinesa no sábado.
Taiwan se separou da China em 1949, após uma guerra civil. O governo Partido Comunista Chinês diz que a ilha é obrigada a se juntar ao continente, à força, se necessário. Pequim diz que o contato com autoridades estrangeiras encoraja os taiwaneses que desejam a independência formal, um passo que o partido governante diz que levaria à guerra.
Advertência
“Esta é uma advertência séria contra o conluio e a provocação entre as forças separatistas da ‘independência de Taiwan’ e as forças externas”, disse um comunicado do Exército Popular de Libertação. Os exercícios da “Espada Conjunta”, como foi denominada a operação, “defendem a soberania nacional e a integridade territorial”.
Já no sábado, os militares taiwaneses disseram que os sistemas de defesa antimísseis foram ativados e patrulhas aéreas e marítimas foram enviadas para rastrear aeronaves chinesas. “Condenamos um ato tão irracional que colocou em risco a segurança e a estabilidade regional”, disse um comunicado do Ministério da Defesa.
“Estou um pouco preocupado, estaria mentindo se dissesse o contrário”, disse Donald Ho, 73 anos, à France-Press, em um parque de Taipé, no domingo. “Se houver guerra, ambos os lados sofrerão muito”, acrescentou ele.
Taiwan e os Estados Unidos denunciaram a operação e pediram contenção a Pequim, assegurando ao mesmo tempo que manteriam abertos seus canais de comunicação com a China.
Washington no sábado reiterou seu chamado “para não mudar o status quo”. “Estamos confiantes de que temos recursos e capacidades suficientes na região para garantir a paz e a estabilidade”, disse o Departamento de Estado.
A presidente Tsai denunciou no sábado o que chamou de expansionismo autoritário da China e disse que Taiwan “continuará trabalhando com os Estados Unidos e outros países para defender os valores da liberdade e da democracia”.
Estratégia de cerco total
Os exercícios, que têm uma dimensão operacional, destinam-se a demonstrar que os militares chineses estarão preparados, “se as provocações se intensificarem, para resolver a questão de Taiwan de uma vez por todas”, disse à AFP o especialista militar Song Zhongping.
Analistas militares sugerem que uma possível estratégia chinesa em caso de ataque é tentar pressionar Taiwan a se render bloqueando o tráfego marítimo e aéreo, impedindo que os Estados Unidos, o Japão ou outros aliados intervenham ou enviem suprimentos.
No sábado, o Exército Popular de Libertação estava testando sua capacidade de dominar o mar, o ar e a informação e de “criar uma situação de dissuasão e repressão”, disse o jornal continental The China Daily.
A China está descontente com a aproximação nos últimos anos entre as autoridades taiwanesas e os Estados Unidos, que, apesar da ausência de relações oficiais, fornece à ilha um apoio militar significativo.
Em agosto, a China realizou exercícios militares sem precedentes em torno de Taiwan e disparou mísseis em resposta a uma visita à ilha da democrata Nancy Pelosi, antecessora de McCarthy na Câmara dos Deputados.
Os EUA reconheceram a República Popular da China em 1979 e, em teoria, não deveriam ter nenhum contato oficial com a República da China (Taiwan) sob o “princípio de uma só China” de Pequim. Porém, Washington é obrigado por uma lei federal a garantir que a ilha de 22 milhões de habitantes tenha os meios para se defender se a China atacar. /AFP e AP