China reage a alerta e busca aprofundar laços com UE

A China revidou a decisão da União Europeia (UE) de tachá-la de “rival sistêmica”, insistindo que as relações com o bloco serão de colaboração, apesar das divisões cada vez maiores em áreas que vão do comércio exterior a segurança digital.
Wang Yi, o ministro das Relações Exteriores da China, promoveu ontem em Bruxelas um plano de 10 pontos para a tomada de medidas conjuntas com relação aos laços bilaterais – uma contrapartida a uma lista, muito mais crítica, da mesma extensão divulgada pela UE na semana passada.
As tensões se intensificaram ontem, quando foi confirmado que o presidente da China, Xi Jinping, visitará França, Mônaco e Itália neste mês, perspectiva que elevou temores de que Pequim esteja tentando dividir o bloco. Roma planeja aproveitar a visita de Xi para endossar formalmente a polêmica Iniciativa do Cinturão e da Rota (BRI), que esbarra na resistência de outros grandes países da UE.
Wang disse que alguma competição entre a China e a UE é inevitável, mas que a ação conjunta, na busca de “resultados vantajosos para ambos os lados”, é crucial.
“A cooperação é o sustentáculo das relações China-Europa, disse Wang. “No passado, presente e futuro, sempre será o mesmo.”
O ministro chinês disse que uma agenda conjunta para a tomada de medidas com a UE inclui o compromisso com o multilateralismo, a reforma da Organização Mundial de Comércio (OMC) e a resolução pacífica de conflitos internacionais. Declarou que a visita de Xi será o “ponto alto” das relações China-UE e um sinal da importância atribuída pela China à Europa, “independentemente das mudanças internacionais”.
“Entre a China e a Europa temos, às vezes, diferenças – mas temos muito mais pontos em comum do que diferenças”, acrescentou.
Wang usou palavras duras para falar dos crescentes temores, nos EUA e na Europa, do risco de segurança potencial representado pelo uso de equipamentos fornecidos por empresas de tecnologia chinesas, notadamente o kit da Huawei para novas redes 5G de comunicação móvel. Ele condenou o que descreveu como “acusações infundadas [feitas] para finalidades políticas e tentativas de humilhar uma empresa estrangeira”.
“Consideramos que essas práticas são anormais, imorais e que não têm qualquer respaldo”, disse.
Os contatos mantidos pelo enviado chinês em Bruxelas com ministros das Relações Exteriores dos 28 países da UE abriram um período intenso de diplomacia Europa-China. Os líderes do bloco deverão discutir nesta semana as relações com o país asiático e realizar uma reunião de cúpula no mês que vem com o premiê chinês Li Keqiang.
O estudo publicado pela Comissão Europeia e pelo serviço diplomático da UE na semana passada, que tachou Pequim de uma “concorrente econômica” e uma “rival sistêmica”, marcou um recrudescimento de tom da parte da UE.
O bloco ameaça adotar medidas de retaliação em várias áreas, entre as quais os interesses chineses na Europa, caso Pequim não abandone práticas de investimentos e tratamento qualificadas por Bruxelas como desleais para com as empresas europeias.
Federica Mogherini, a mais graduada diplomata da UE, tentou minimizar o atrito revelado no documento, que, segundo ela, destina-se a promover a discussão interna entre dirigentes da UE em sua cúpula desta semana.
Ela disse que o bloco está “comprometido em fortalecer a cooperação com a China”, como uma “parceira estratégica abrangente”, embora tenha reconhecido que a associação não é óbvia e natural.
“De fato não é um quadro preto no branco”, disse ela. “É um quadro complicado, de uma relação muito intensa, muito profunda e muito ampla que define áreas diferentes e enfoques diferentes de uma forma sempre construtiva.”

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