China e EUA trocaram de papel na economia mundial

A China desacelerou. Os EUA cresceram. Os acontecimentos da última semana ressaltaram a reviravolta notável registrada pela economia global desde a crise financeira.

Seis anos atrás, os Estados Unidos viviam um pânico financeiro, a Europa era vista, de maneira geral, como um espectador inocente e a China, como um instrumento para a recuperação do crescimento mundial. Agora, a economia americana avança rápido – gerando empregos a um ritmo não visto desde o fim dos anos 90 – enquanto o governo chinês tenta administrar uma desaceleração econômica e a Europa ainda busca se levantar, como mostrou material do The Wall Street Journal , assinada por Jon Hilsenrath, publicada pelo Valor em 9/03, pg B9.

Os diferentes sinais emitidos pela política monetária são emblemáticos da mudança: os dados positivos de emprego divulgados na sexta-feira pelos EUA aumentam a probabilidade de que o Federal Reserve, o banco central americano, eleve os juros de curto prazo este ano, enquanto o Banco Popular da China cortou os juros na semana passada.

O descompasso nos cenários de crescimento e nas respostas políticas é um prenúncio de possíveis abalos no mercado financeiro, como o risco de um fortalecimento ainda maior do dólar americano, que já se valorizou 11% contra uma cesta ampla de divisas no ano passado e 2% contra o yuan chinês.

Esse cenário também suscita uma grande dúvida: a economia americana – mais forte, mas ainda enfraquecida pela crise – poderá revigorar a economia global da mesma forma que fez anteriormente?

Como a participação da economia chinesa no crescimento global é hoje bem maior que antes, a desaceleração do país certamente terá maiores consequências para a economia mundial do que teve no passado. Mas uma recuperação americana e uma Europa estabilizada ajudaria o resto do mundo a administrar os problemas da China.

Com as instituições financeiras americanas em terreno mais firme, o crescimento do crédito está acelerando. Os portfólios de empréstimos comerciais e industriais dos bancos nos EUA subiam 12% em meados de fevereiro em relação a igual período do ano anterior. Ao mesmo tempo, as carteiras de empréstimos ao consumidor e de financiamento de imóveis estão crescendo e as reservas em dinheiro estão diminuindo.

O governo chinês luta contra problemas que ameaçam levar a metas contraditórias – ele busca impulsionar a produção econômica no curto prazo, enquanto tenta, ao mesmo tempo, reajustar uma economia que se tornou altamente endividada e se guiou para o mercado imobiliário após a crise financeira de 2008.

A preferência de Pequim por ajustes graduais está deixando os formuladores de políticas com poucas opções atraentes, um menor crescimento econômico e orçamentos mais apertados num momento em que a população envelhece rapidamente, exigindo mais serviços sociais abrangentes e mais qualidade de vida.

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