China começa a sentir os impactos das tarifas dos EUA

A liderança da China prometeu assegurar a estabilidade econômica em meio à guerra comercial com os Estados Unidos, que começa a afetar o crescimento econômico, sinalizando que um estímulo maior pode estar por vir.
Uma reunião do Politburo – cujos membros são os principais detentores do poder na China – realizada ontem destacou os desafios externos que a segunda maior economia do mundo enfrenta. Sem citar o conflito com os EUA, uma declaração divulgada pela mídia estatal deixou claro que a disputa é uma grande ameaça ao crescimento e à estabilidade, superando questões como o controle da dívida. A economia chinesa “enfrenta alguns problemas novos e novos desafios”, diz o texto. “Há mudanças óbvias no ambiente externo.”
A reunião ocorreu horas depois que dados oficiais mostraram um enfraquecimento da atividade econômica da China em julho – os primeiros dados a refletir o impacto das tarifas americanas. Os dados de atividade industrial e de serviços reforçaram os sinais de que as tensões comerciais já estão reduzindo o crescimento econômico.
Pequim vem administrando uma desaceleração controlada da economia. Em alguns momentos, esse crescimento foi amparado por doses de crédito fácil que ajudaram a tornar a dívida uma ameaça de longo prazo para a economia. Com o crescimento acima da meta de 6,5% do governo, nos últimos dois anos o presidente Xi Jinping focou na questão da dívida e outros riscos financeiros para colocar a economia em bases sólidas.
Agora a economia sente os efeitos dessa campanha. Há sinais crescentes de que a expansão econômica está perdendo dinamismo – de investimentos cada vez mais fracos em fábricas ao consumo anêmico das famílias e ao aumento da inadimplência das empresas.
A guerra comercial com os EUA é mais um fator a colocar o crescimento em risco, o que faz a campanha de Xi parecer insustentável. Nas últimas semanas, o Banco do Povo da China (PBoC, banco central chinês) tem injetado recursos no sistema financeiro. Autoridades locais estão retomando projetos antes parados por causa das políticas de contenção anteriores.
Com as medidas de relaxamento em curso, a reunião de alto nível abriu caminho para mais ações. A declaração prevê medidas pró-crescimento como mais gastos governamentais com estradas, ferrovias e outros projetos de infraestrutura e a manutenção de condições de liquidez “razoáveis” – um eufemismo para crédito fácil.
A declaração oficial também procurou amenizar os temores de que Pequim possa prejudicar empresas americanas em retaliação à ofensiva comercial do governo de Donald Trump. “Direitos legítimos de companhias estrangeiras na China estarão protegidos.”
De acordo com autoridades chinesas, no mês passado o Ministério do Comércio, que supervisiona os investimentos estrangeiros, orientou funcionários locais a estimar como a recente rodada de tarifas americanas – de 25% sobre US$ 34 bilhões em produtos chineses, que entrou em vigor no começo de julho – está afetando as empresas americanas que operam na China.
Em particular, os funcionários procuram sinais de empresas que estejam tirando operações do país. Isso seria um golpe ao esforço de Pequim de atrair capital estrangeiro e manter empregos num momento de crescente pessimismo.
As pesquisas de atividade industrial e de serviços de julho apontaram uma fraca demanda doméstica. Segundo economistas, empresas que tinham antecipado exportações por causa das tarifas, podem ter reduzido produção e investimentos. “Os impactos das tarifas começaram a aparecer este mês”, disse Liu Xuezhi, economista do Bank of Communications.
Ontem, três fontes a par dos planos da Casa Branca afirmaram que o governo americano quer elevar de 10% para 25% as tarifas sobre US$ 200 bilhões em importações da China, segundo a Bloomberg.
Segundo o Escritório Nacional de Estatística, o índice de atividade industrial dos gerentes de compras caiu ao menor nível dos últimos cinco meses, para 51,2 em julho, de 51,5 em junho. Números acima de 50 apontam expansão da atividade. O componente de importações do índice caiu para o ponto mais baixo em 23 meses, enquanto o de exportações se manteve estável, graças a um yuan desvalorizado, disse Julian Evans-Pritchard, da Capital Economics.
Tanto a produção como a demanda enfraqueceram em julho. O subíndice que mede a produção caiu para 53,0, de 53,6, enquanto o de novas encomendas recuou para 52,3, de 53,2.
O índice de atividade do setor de serviços caiu em julho para seu menor nível em 11 meses, para 54,0 em julho, de 55,0 em junho.
“Os dados são consistentes com nossa visão de que a economia chinesa está no caminho de desacelerar ainda mais neste trimestre e no próximo, o que provocará novas políticas de relaxamento”, disse Evans-Pritchard.

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