Celebração na China reforça nacionalismo

O maior desfile militar que Pequim já viu em décadas aconteceu na Praça da Paz Celestial (Tiananmen) para marcar o 70o aniversário da fundação da República Popular da China.
Cerca de 100 mil militares e artistas participarão de uma parada de cerca de 80 minutos que incluirá 160 aviões e 580 modernos sistemas de armas. Essa extravagante exibição de poder ocorre num momento delicado para Pequim. A China enfrenta uma prolongada guerra comercial e tecnológica com os EUA, ao mesmo tempo em que protestos contra o establishment paralisam Hong Kong há quase quatro meses.
Além disso, a imprensa ocidental expõe cada vez mais o confinamento de muçulmanos uigures em campos na região de Xinjiang.
Mas mesmo com Pequin enfrentando esses problemas, a juventude local vem sendo mergulhada num fervor patriótico pela propaganda diária sobre as comemorações, com promessas de fogos de artifício, pompa e ostentação.
“Eu gostaria de assistir a magnífica parada militar em Pequim”, diz Lian Dongni, um balconista de 25 anos de Shenzhen, o centro tecnológico que fica na fronteira com Hong Kong, onde os fogos de artifício em comemoração ao dia nacional foram proibidos este ano por causa das manifestações.
Zhao Lin, um engenheiro de softwares de 27 anos de Xangai, diz: “Eu gostaria que a China pegasse Taiwan de volta”, referindo-se à ilha que Pequim considera parte de seu território.
As autoridades chinesas estão aproveitando a ocasião para aclamar a transformação recente do país sob o presidente Xi Jinping e instilar uma forte dose de nacionalismo na população.
“Isso vai motivar e encorajar todos os membros do partido, todos os militares e pessoas de todos os grupos étnicos a trabalharem incansavelmente pela realização do sonho chinês do rejuvenescimento nacional”, diz o general Cai Zhijun, vice-diretor do grupo que está organizando a parada militar.
O presidente Xi fará um discurso durante as comemorações, no qual deverá atribuir o acelerado crescimento econômico da China ao regime eficiente do Partido Comunista Chinês. Além de reforçar a confiança em seu governo e nas conquistas do país, Xi também deverá transmitir uma mensagem velada para o presidente dos EUA, Donald Trump, por causa dos ataques que este fez às práticas comerciais chinesas no discurso feito na Assembleia Geral da ONU, na semana passada.
Mais de 40 convidados, incluindo o ex-presidente cubano Raúl Castro e a irmã mais velha do rei da Tailândia, a princesa Chakri Sirindhorn, serão homenageados por suas contribuições ao desenvolvimento da China.
Mais de dez jovens entrevistados pela “Nikkei Asian Review” enalteceram a liderança do partido, afirmando estar orgulhosos da posição da China no cenário mundial. A maioria dos entrevistados nasceu depois de 1990, sob a então política do filho único. Para eles, os distúrbios da Revolução Cultural e as dificuldades enfrentadas durante os dias iniciais da liberalização são lembranças de seus pais.

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2019/09/30/celebracao-na-china-reforca-nacionalismo.ghtml

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