Caixa eletrônico vira peça de museu na China

O mundo usa cada vez menos papel-moeda, mas a viagem para o futuro empreendida pelos chineses é feita sem escalas. Dá um salto nos cartões de débito e de crédito – sinônimos de inclusão bancária no Ocidente. De lojas de grife nos grandes aeroportos até pequenas mercearias nos bairros residenciais, eles já adotaram o uso massivo do celular como sistema de pagamento corrente.

É um processo que dura dois ou três segundos, no máximo. O cliente leva o produto escolhido ao caixa do estabelecimento e um leitor ótico capta o “QR Code” na tela do celular. O valor é automaticamente debitado da conta corrente do usuário. Pode-se jogar a conta para o cartão de crédito – meramente virtual. Nenhuma operação requer senha. “Para um chinês, perder o telefone é muito pior do que se lhe roubam a carteira”, afirma um mexicano que mora em Pequim há cinco meses, como mostrou matéria de Daniel Rittner pblicada no Valor de 24/10.

Todo esse sofisticado meio de pagamento eletrônico passa pelo WeChat, um aplicativo com 960 milhões de usuários ativos, desenvolvido na própria China e verdadeira febre local. Ele é, ao mesmo tempo, rede social e serviço de mensagens. Em uma única plataforma, oferece versões locais de tudo o que nos faz gastar horas com o pescoço inclinado: WhatsApp, Facebook e Instagram. Sua chamada de voz é estável e raramente perde conexão.

Boa parte do sucesso do WeChat, cuja desenvolvedora está sediada em Shenzhen, deve-se à censura imposta pelo Partido Comunista. O WhatsApp e o Facebook, bem como as buscas pelo Google e as mensagens por Gmail, são bloqueados pelo governo.

A única forma de driblar a restrição é usando uma rede VPN, que disfarça o protocolo de internet (IP) e faz os sites em geral “entenderem” que a conexão foi feita em outro país do mundo, não da China. O problema é que essa triangulação deixa a navegação instável e o governo chinês muitas vezes também derruba essa conexão.

Os números envolvidos no sistema de pagamento do WeChat impressionam: 300 mil estabelecimentos no país estão credenciados e há 600 milhões de transações por dia, segundo estimativas de consultorias privadas. A inexistência de notas maiores do que 100 yuans – o equivalente a US$ 15 aproximadamente – dá impulso adicional à tecnologia.

A China ainda não conseguiu distribuir o aplicativo por outros países, mas sua utilidade como sistema de pagamento chama a atenção de várias nações africanas e do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. Em um discurso recente, ele prometeu se empenhar na sua disseminação: “Nós vamos surpreender. Logo, quando eu perguntar quem tem WeChat, toda a Venezuela vai responder que tem WeChat, o melhor sistema de comunicação do mundo”. Se for convertido também em meio de pagamento, facilitaria a vida das pessoas em um país com inflação anual de três dígitos e onde é preciso carregar maços de dinheiro até para pequenas compras.

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