Busca on­line ainda dita futuro no Google

Assim que sua receita atinge US$ 100 bilhões, a maioria das empresas entra em uma fase confortável de maturidade. É o efeito da lei dos grandes números. Isso não ocorre no caso do Google. O mercado de busca patrocinada, a base dos negócios da empresa, pode ter completado 20 anos, mas o crescimento da companhia de internet voltou a se acelerar nos últimos três anos. Em decorrência disso, a expectativa é que sua holding, a Alphabet – que extrai 99,5% de sua receita do Google – vá registrar neste ano sua maior taxa de crescimento desde 2011, embora o faturamento seja quase quatro vezes maior que o daquele ano.
Os US$ 26 bilhões em novos negócios que tendem a ser incorporados neste ano são uma demonstração assombrosa do poder de resistência do negócio principal do Google. Indica também o quanto está saudável o caixa que tem custeado os próximos grandes negócios da empresa, impelindo seu crescimento para muito além da busca on-line, como mostrou matéria do Financial Times, assinada por Richard Waters, publicada no Valor de 1/06.
Se a Alphabet conseguir manter esse ímpeto e ultrapassar sua atual fase de investimentos de margens apertadas, suas ações deverão ter êxito em manter o múltiplo atual de lucros nos próximos três anos, disse Dan Chung, diretor de investimentos da administradora de fundos Alger, de Nova York. Isso indica um ganho de 30% no valor da ação no mesmo período, acrescentou ele, algo que, se confirmado, elevará o valor de mercado do Google para perto de US$ 1 trilhão.
Apesar do sólido desempenho recente e do potencial de crescimento, há nuvens negras pairando sobre o preço das ações do Google, a começar da escalada de gastos que afugentou alguns investidores nos últimos meses. “Se há uma frustração para os acionistas da Alphabet é o fato de que a empresa não faz um bom trabalho em dar visibilidade aos seus negócios”, disse Jim Tierney, da gestora de investimentos AllianceBernstein, expressando uma queixa coletiva. “Eu confio neles em longo prazo, mas seria muito bom ter alguns marcos ao longo do caminho.”
Uma preocupação maior que pesa sobre os papéis tem sido a ameaça de uma reação adversa de ordem política e regulatória alimentada pelo crescente poder do Google. “O maior risco é, sem dúvida, a regulamentação da privacidade, e também o controle monopolista da empresa sobre determinados segmentos”, disse Chung.
Mas, se a companhia conseguir navegar por problemas como esses, muitos analistas de Wall Street acham que a Alphabet está prestes a experimentar uma forte arrancada de crescimento que fará sua receita ultrapassar a marca dos US$ 200 bilhões até o início da próxima década.
Por trás disso, está o negócio de dispositivos móveis, que deu ao mecanismo de pesquisa do Google uma nova vida. Com os usuários de smartphones fazendo buscas mais frequentes na internet, os “cliques pagos” – o número de vezes que os usuários clicam em seus anúncios – aumentaram 59% nos primeiros três meses deste ano, dando continuidade à aceleração dos últimos trimestres. Mesmo com os preços médios dos anúncios caindo 19%, o resultado foi a aceleração do crescimento.
A pergunta, agora, é se os mais novos negócios do Google vão propagar esse ímpeto para novos mercados nos próximos anos. O principal deles é o YouTube. O braço de vídeo on-line já contabiliza US$ 20 bilhões em receitas anuais e poderá crescer de 20% a 30% ao ano nos próximos cinco anos, prevê o analista Mark Mahaney, do banco de investimento RBC Capital Markets.
O potencial é gigantesco: a receita do YouTube representa apenas cerca de 10% do valor gasto mundialmente em publicidade na TV tradicional, disse o analista Youssef Squali, da assessoria de investimentos SunTrust Robinson Humphrey. “A boa notícia é que ainda é bem cedo para o YouTube”, disse ele. “É para ele que se voltam as atenções.”
A divisão de computação em nuvem do Google, por sua vez, poderá representar uma oportunidade ainda maior. As projeções para o mercado da nuvem indicam que ele terá um valor de quase US$ 250 bilhões até 2021, de acordo com a empresa de pesquisa tecnológica Gartner.
O Google fez uma estreia tardia no setor. Com sua atual receita anualizada de US$ 4 bilhões, está bem atrás das líderes Amazon e Microsoft. Mas a empresa finalmente lançou mão de um sério ataque ao mercado, e oferecer a outras empresas acesso à inteligência artificial (IA) desenvolvida para seus próprios serviços pode ser um poderoso atrativo.
As chamadas “outras apostas” da Alphabet – que incluem biotecnologia, redes de banda larga e carros sem motoristas – oferecem a chance de crescer em mercados inteiramente novos. Mas a maioria dos investidores e analistas ainda não tentou avaliar seu potencial de negócios ou incluí-las em seus modelos de avaliação.
Sobre a divisão de carros autônomos Waymo, Mahaney, da RBC, disse: “Está muito obscuro qual será o futuro do modelo de receita de longo prazo – isso está a uma distância de pelo menos cinco anos”. Mas ele acrescentou que a dianteira da Waymo nessa área poderá colocá-la, algum dia, em condições de vender seu software a várias montadoras, em boa medida assim como o software Windows, da Microsoft, tornou-se o padrão para os PCs: “Acho que eles estão criando o sistema de veículo autônomo para todos os carros”.
Mas, diante da atual paralisia no preço das ações e da dificuldade em avaliar seus negócios futuros, Wall Street pode tardar a apostar no Google. “Acho que a Amazon chegará a US$ 1 trilhão primeiro, mas a Alphabet chegará lá também”, disse Squali.

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