A lista está cada vez maior. O presidente Barack Obama enfrenta a maior revolta simultânea de seus aliados internacionais nos seus cinco anos de mandato. Não é pouca coisa. A onda de descontentamento começou em julho, no Brasil e México, com as atividades da Agência de Segurança Nacional (NSA), seguido pela “bronca” de históricos parceiros europeus, Alemanha, França, Itália e Espanha com a Casa Branca. Mesmo sem ganhar tanto espaço na mídia, Washington sabe que o pior dessa raiva toda está com as nações amigas do Oriente Médio, especialmente a Arábia Saudita. Neste caso, a raiva não é com espionagem, mas com a nova “amizade” com o Irã. Com um complicador muito grande: Israel não quer nem ouvir falar dessa aproximação de Obama com Teerã.
A oposição e até as críticas públicas de lideranças mundiais, que sempre foram amigas dos americanos, já são comuns. Muitos analistas apontam que o presidente Obama começa a receber a fatura de decisões controversas de sua política externa.
Com tantos incêndios para apagar, Obama enviou o secretário de Estado, John Kerry, para uma visita no Oriente Médio, com paradas no Norte da África e Europa. No sábado, Kerry, como mostrou a edição do Globo de 2/11, pg 38, procurou ser bem sincero, até com mea culpa: as ações de espionagem “em alguns casos, foram longe demais”. Kerry disse que muitas vezes os erros ocorrem porque “tudo fica no piloto automático”, uma vez que existe “tecnologia e capacidade para isso”. O “isso” é espionar, inclusive, os amigos.
O secretário Kerry recebeu duas tarefas bem complicadas: aparar as arestas com o rei saudita Abdullah e acalmar os ânimos com Israel. Ambos, sauditas e israelenses, dizem a mesma coisa: a opção de Obama de conversar com o Irã é um sério equívoco, porque os iranianos “não seriam confiáveis”. A diplomacia de Teerã, na visão de Israel e da Arábia, apenas quer “comprar tempo” até conquistar a tecnologia de armamento nuclear.
Há outros problemas bem complicados: a Turquia, descontente com o recuo americano na Síria, ameaça comprar armas dos chineses. E não podemos esquecer que a líder da terceira economia do mundo, Angela Merkel, ficou furiosa quando descobriu que seu celular estava grampeado por Washington. E decidiu apoiar a ação do Brasil na ONU para um projeto de proteção internacional da privacidade na era digital.
A maior parte dos estragos na política externa americana foram feitos pelas revelações de Snowden, o ex-agente da CIA que exibiu as provas de que Washington espionava até os amigos. Agora, a diplomacia alemã já pediu aos russos que deseja “conversar” com Snowden, em Moscou, onde o ex-agente está refugiado. Nada indica que os problemas da política externa americana diminuirão nas próximas semanas.