THE NEW YORK TIMES — O governo Biden está crescentemente ansioso em relação à possibilidade dos inimigos de Israel buscarem ampliar a guerra contra o grupo terrorista Hamas abrindo novos fronts, um movimento que forçaria os Estados Unidos a entrar em conflito direto com forças aéreas e navais para defender seu aliado mais próximo na região.
Washington tem buscado vias diplomáticas e militares para evitar qualquer expansão. O Pentágono acionou um segundo porta-aviões para a região durante o fim de semana, juntamente com aviões militares para bases terrestres, mesmo que o governo americano tenha mandado mensagens indiretas para o Irã por meio de intermediários no Catar, em Omã e na China alertando contra uma escalada.
Temores sobre um segundo front aprofundaram-se no domingo, conforme confrontos intensos ocorreram na fronteira norte de Israel. O Hezbollah, a milícia apoiada pelo Irã que controla o sul do Líbano, disparou mísseis contra Israel, que respondeu com fogo de artilharia e ataques aéreos. Um ataque total no norte poderia sobrecarregar Israel, já que a maioria de suas forças está com foco em uma possível invasão terrestre a Gaza, no sul.
“Nós não podemos descartar que o Irã poderia escolher envolver-se diretamente de alguma maneira”, afirmou o conselheiro de segurança nacional do presidente Joe Biden, Jake Sullivan, no programa “Face the Nation”, da CBS, no domingo. “Nós temos de nos preparar para qualquer contingência possível. É exatamente isso que o presidente tem feito. Isso é parte do que motivou o presidente a movimentar esses ativos, para mandar uma mensagem clara de dissuasão para deixar claro que esta guerra não deveria escalar.”
Alguns especialistas alertaram que esse cenário permanece assustadoramente possível porque a vulnerabilidade de Israel foi exposta por um ataque surpresa que matou mais de 1,3 mil pessoas, incluindo pelo menos 29 americanos. O Hezbollah representa uma ameaça marcadamente mais séria a Israel do que o Hamas em razão de seu vasto arsenal de mísseis guiados de precisão e milhares de combatentes experientes e bem treinados. Irã e o Hezbollah podem decidir que este é um momento de oportunidade máxima para enfrentar um Estado de Israel ferido, que tem foco em recuperar 150 reféns e destruir o Hamas enquanto organização viável em Gaza.
Martin Indyk, ex-embaixador em Israel e enviado especial para o Oriente Médio, coloca a chance de uma guerra maior em 50%. “O potencial de a guerra se espalhar não apenas para o Líbano, mas para além do Líbano é muito alta”, disse ele em entrevista. “É por isso que nós vemos o governo engajar-se tão ativamente em tentar afastá-los, o que normalmente não seria necessário se um grande golpe contra a dissuasão de Israel não tivesse sido impingido.”
Uma fonte iraniana próxima ao governo afirmou que nenhuma decisão foi tomada a respeito de abrir um novo front contra Israel, mas acrescentou que uma reunião seria realizada na noite do domingo no centro do comando do Hezbollah na capital libanesa, Beirute, para deliberar sobre o tema.
Depois que o Hamas atacou Israel, em 7 de outubro, as milícias ligadas ao Irã na região foram colocadas em alerta máximo, assim como as próprias Forças Armadas iranianas, de acordo com duas fontes cientes dos cálculos militares de Teerã.
O Irã não planeja atacar Israel se não for atacado, afirmaram as fontes, mas os líderes do chamado eixo de resistência apoiado por Teerã têm discutido se o Hezbollah deve ou não entrar na guerra. A decisão final, acrescentaram eles, pode depender do que acontecer se as forças terrestres de Israel entrarem em Gaza, conforme o esperado.
O ministro de Relações Exteriores do Irã, Hossein Amir Abdollahian, está em um tour diplomático pela região, circulando por Iraque, Líbano, Síria e Catar, países alinhados ou amistosos ao Irã, segundo os meios de comunicação estatais iranianos. Ele expressou abertamente o apoio do Irã ao Hamas encontrando-se com seu chefe político, Ismail Haniyeh, em Doha, no Catar. Ele também se reuniu com o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, em Beirute.
Depois da reunião de três horas de Amir Abdollahian com Haniyeh, um representante do Hamas, Khalil al-Hayya, afirmou que os dois concordaram em criar uma “frente mais ampla contra Israel” e discutiram como evitar o antecipado ataque de Israel contra Gaza, de acordo com a agência de notícias estatal do Irã, IRNA.
“Nas minhas reuniões com os líderes da resistência”, afirmou Amir Abdollahian, “eu soube que quando chegar a hora de responder a esses crimes, isso determinará e transformará o atual mapa dos territórios ocupados”.
Sem a entrada de suprimentos, a agência da ONU em Gaza afirma que não pode mais fornecer ajuda. Em suas declarações públicas da semana passada, Biden deixou claro repetidamente que se coloca solidamente do lado de Israel e buscou mandar uma mensagem clara ao Irã por meio de acionamentos militares. O presidente americano ordenou que o maior e mais avançado porta-aviões de sua Marinha, o Gerald R. Ford, rumasse para o Mediterrâneo juntamente com sua frota de escolta. Então no sábado, o secretário da Defesa, Lloyd Austin, ordenou que o porta-aviões Dwight D. Eisenhower se juntasse à manobra.
A Força Aérea, similarmente, está mandando mais aviões para a região, dobrando o número de esquadrões de F-16, A-10 e F-15 em solo. Em combinação com os quatro esquadrões de jatos F/A-18 a bordo dos dois porta-aviões, os EUA terão uma armada aérea de mais de 100 caças de combate, de acordo com autoridades militares.
O Pentágono também mandou uma pequena equipe de forças de Operações Especiais a Israel para auxiliar com inteligência e planejamento para ajudar a localizar e resgatar os reféns mantidos pelo Hamas, entre os quais, acredita-se, há alguns americanos.
Israel resiste historicamente a tropas terrestres estrangeiras participarem de operações em seu território, e autoridades da Casa Branca afirmam que não contemplam nenhuma ação de forças americanas em campo. Mas se o Hezbollah iniciar um grande ataque, os EUA poderão acudir Israel usando unidades navais e aéreas para bombardear a milícia no Líbano.
“Mover dois porta-aviões para a região manda um sinal muito forte”, afirmou o general Frank McKenzie, ex-comandante do Comando Central dos EUA, no “Face the Nation”. “Há ampla evidência histórica de que o Irã respeita o fluxo de forças de combate ao teatro — o que não afeta seu cálculo de decisão. E conforme o cálculo do Irã for afetado, o do libanês Hezbollah também será.”
Ainda assim, uma fonte iraniana próxima ao governo afirmou que as mensagens diplomáticas dos EUA mandadas por intermediários indicam que os americanos não têm intenção de entrar em guerra com o Irã e que os navios de guerra são destinados a dar um apoio moral a Israel. Isso pode sugerir uma diferença na interpretação. Autoridades americanas afirmaram que não querem guerra com o Irã ao mesmo tempo que enviam forças militares explicitamente para dissuadir Teerã com a opção de acioná-las se houver provocação.