Apps chineses têm novos capítulos nos EUA

O destino do TikTok e do WeChat nos Estados Unidos, onde os dois aplicativos chineses enfrentam forte resistência do governo americano, teve desdobramentos importantes no fim de semana. 

Ontem, a juíza Laurel Beeler, da Califórnia, suspendeu temporariamente a decisão do Departamento de Comércio dos EUA de bloquear o WeChat, controlado pela chinesa Tencent, apenas algumas horas antes de a medida entrar em vigor. As autoridades haviam determinado que a Apple e o Google retirassem o WeChat de suas lojas de aplicativos até às 23:59 de domingo, o que praticamente tornaria o app inutilizável em território americano. 

A juíza decidiu em caráter liminar a favor do pedido de um grupo chamado Aliança de Usuários do WeChat, segundo o qual a medida violava a Primeira Emenda da Constituição dos EUA, que garante liberdade de expressão. Em sua petição, o grupo afirmou que a proibição prejudicaria principalmente o direito de milhões de americanos que falam chinês e dependem do WeChat para manter contato com parentes e amigos nos EUA e na China.

A decisão judicial foi considerada um revés para o governo do presidente Donald Trump, que tem alegado razões de segurança nacional para impedir que os americanos usem os dois aplicativos. A justificativa é que, por meio desses apps, o governo chinês tem acesso indevido a dados pessoais de cidadãos dos EUA. 

O WeChat é um exemplo dos chamados superaplicativos, que reúnem vários funções em uma única plataforma, como mensagens instantâneas, rede social e pagamentos on-line. Os superaplicativos encontraram terreno fértil na China. A estimativa é que o WeChat reúna mais de um bilhão de usuários, a maior parte deles em território chinês. 

No caso do TikTok, aplicativo de vídeos curtos da chinesa ByteDance, o desenlace parece estar no acordo que se desenha com a americana Oracle, fornecedora de software para negócios, e o grupo varejista Walmart. No sábado à noite, Trump deu sinal positivo para o acordo, cuja negociação foi confirmada pelas empresas envolvidas. 

A Oracle teria o direito de comprar 12,5% de uma nova companhia a ser criada, a TikTok Global, com sede nos EUA. O Walmart ficaria com mais 7,5%. Com isso, 20% da nova organização seria de propriedade americana, deixando os demais 80% nas mãos da ByteDance. Mas como o grupo chinês já tem investidores estrangeiros, o cálculo é que os americanos passariam a deter 53% da TikTok Global. A transação, segundo estimativas, custaria US$ 20 bilhões aos cofres da Oracle e do Walmart. O plano é que a nova companhia passe a negociar ações em bolsa no prazo de um ano a partir de sua criação. 

Com as negociações em andamento, o Departamento de Comércio decidiu postergar para o dia 27 o prazo para a retirada do TikTok das lojas da Apple e do Google, que também estava prevista para ontem. 

O Walmart informou que seu presidente executivo, Doug McMillon, ocupará um dos cinco assentos do conselho da nova empresa. Zhang Yiming, fundador da ByteDance, também integraria o colegiado, de acordo com pessoas que acompanham as negociações. 

Em comunicado conjunto, a Oracle e o Walmart disseram que a TikTok Global criará mais de 25 mil empregos nos EUA e contribuirá com mais de US$ 5 bilhões em recolhimento de impostos pelo Tesouro americano. 

O anúncio foi bem-recebido pelo governo dos EUA, mas despertou críticas de políticos como o senador Marco Rubio, do Partido Republicano, o mesmo de Trump. “Se houver alguma chance de a China continuar a coletar dados de cidadãos americanos, não podemos apoiar esse acordo”, afirmou. 

O governo chinês não comentou o assunto, mas a notícia provocou irritação na China. Fang Xingdong, ex-empresário da internet e fundador da consultoria China Labs, disse, ontem, que o acordo era um “roubo à luz do dia”. 

https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020/09/21/apps-chineses-tem-novos-capitulos-nos-eua.ghtml

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