Apple desafia Google ao bloquear anúncio

A iniciativa da Apple para facilitar o bloqueio de anúncios nos iPhones e iPads está criando problemas para editoras e ampliando as tensões com seus vizinhos do Vale do Silício.

A próxima versão do sistema operacional para dispositivos móveis da Apple, que deve ser lançado este mês, permitirá que os usuários instalem aplicativos que impedem que anúncios apareçam no browser Safari, como mostrou material do The Wall Street Journal, assinada por Daisuke Wakabayashi e Jack Marshall, publicada no Valor de 1 de setenbro, pg B8

Disponibilizar esses “bloqueadores de anúncios” a centenas de milhões de usuários de iPhones e iPads é uma ameaça ao mercado de marketing de dispositivos móveis, de US$ 70 bilhões por ano, onde muitas editoras e empresas de tecnologia esperam gerar muito mais receita de um público cada vez maior. Se menos usuários virem os anúncios, as editoras – e outros participantes desse mercado, como agências de publicidade – obterão menos receita.

A iniciativa também é uma arma na disputa com o rival Google , que ganha mais dinheiro com anúncios na internet que qualquer outra empresa do mundo.

Ao disponibilizar os bloqueadores de anúncios no iOS, um dos dois principais sistemas operacionais de smartphones, mais consumidores devem usar a tecnologia.

Os benefícios de bloquear anúncios são bem maiores em smartphones do que em PCs, porque podem reduzir a confusão em telas pequenas e ajudar as páginas a carregarem mais rapidamente.

“A Apple vai criar um enorme apetite nos consumidores para bloquear anúncios”, diz Sean Blanchfield, presidente da PageFair, empresa que ajuda editoras a combater o bloqueio de anúncios.

A Apple tem um público mais lucrativo. Os usuários do iOS gastam mais dinheiro em seus dispositivos que aqueles com o sistema operacional Android, do Google, o que os torna mais desejáveis para os anunciantes.

Bloqueadores de anúncios estão disponíveis há muito tempo para browsers de computadores pessoais e têm atraído um pequeno mas fiel séquito de seguidores. Os usuários podem navegar na internet sem ver anúncios, links patrocinados em resultados de buscas ou comerciais antes de vídeos on-line. A Apple permite bloqueadores de anúncios em seu browser Safari para PCs.

Cerca de 6% dos usuários globais de internet usam bloqueadores de anúncios, segundo um relatório de agosto da PageFair e da Adobe Systems. Segundo esse relatório, 198 milhões de usuários usavam os bloqueadores de anúncios em junho de 2015, número 40% maior em relação ao ano anterior. O analista da Wells Fargo, Peter Stabler, estima que os bloqueadores de anúncios reduzirão os investimentos mundiais em publicidade na internet em US$ 12,5 bilhões em 2016.

“O problema dos bloqueadores de anúncios é real e crescente, e os bloqueadores no iOS vão apenas acelerá-lo”, diz Jason Kint, presidente do Digital Content Next, associação de
editoras digitais.

A Apple não está desenvolvendo o software para bloquear publicidade. Ela está permitindo que desenvolvedores externos criem programas compatíveis com o browser do seu iOS 9. Isso significa que os usuários precisam encontrar um aplicativo bloqueador de anúncios e instalá-lo, um passo extra que pode afastar algumas pessoas.

A Apple descreve os aplicativos como “bloqueadores de conteúdo” porque eles podem impedir que imagens e outras partes de páginas da internet sejam carregadas, assim como publicidade.

A Apple afirma que não permitirá bloqueio de anúncios dentro dos aplicativos, porque os anúncios dentro dos apps não comprometem o desempenho, como ocorre com o browser. Essa distinção serve aos interesses da Apple. Ela fica com 30% da receita gerada pelos apps e tem um negócio fornecendo anúncios dentro de aplicativos.

Além disso, o iOS 9 incluirá o aplicativo Apple News, que terá artigos das principais empresas de notícias. A Apple poderá receber uma fatia da receita dos anúncios que acompanharão esses artigos.

Uma preocupação para as editoras é que o software de bloqueio de anúncios pode fornecer aos usuários uma experiência melhor, livre de vídeos automáticos e rastreadores escondidos que monitoram os usuários por toda a internet.

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