Apple busca se reinventar com novos serviços

Em um evento de quase duas horas de duração que contou com a participação até do diretor de cinema Steven Spielberg e da apresentadora Oprah Winfrey, a Apple anunciou uma série de serviços digitais com os quais a companhia espera sustentar seu ritmo de crescimento nos próximos anos. O reforço na estratégia de serviços ocorre no momento em que a fabricante busca alternativas para reduzir a dependência do iPhone, que apresentou vendas praticamente estáveis na comparação entre 2017 e 2018.
“Que manhã divertida. Com tudo que compartilhamos, vocês podem ver o
quão importantes esses serviços são pra gente”, disse Tim Cook, presidente da companhia ao fim do evento.
As novidades, no entanto, parecem não ter impressionado o mercado. A ações da companhia, que chegaram a subir levemente antes da abertura do pregão da Nasdaq ontem pela manhã, fecharam o dia com queda de 1,21%. Outros nomes que poderiam sofrer reveses com os investimentos anunciados pela companhia, como Visa e American Express, tiveram impacto mínimo, ou mesmo positivo em suas cotações durante e após o evento da Apple. A Netflix, por exemplo, viu seu papel fechar em alta de 1,45%, recuperando pequenas quedas acumuladas nos últimos dias à espera do aguardado serviço de vídeo por assinatura da companhia fundada por Steve Jobs.
A descrença é reflexo da avaliação de que a estratégia de conteúdo vai exigir altos investimentos – a Netflix gastou US$ 12 bilhões em 2018, enquanto a Apple desembolsou cerca de um décimo disso – e da falta de recursos realmente inovadores, que diferenciam a companhia de seus concorrentes.
Batizado de Apple TV+, o serviço da Apple trará conteúdos originais de nomes como Spielberg e Oprah, além de diretores como J.J. Abrams e M. Night Shyamalan. A expectativa é adicionar novos conteúdos todos os meses. O lançamento está previsto para o terceiro trimestre em mais de 100 países, ainda sem preço definido. O serviço estará disponível nos aparelhos da Apple e também em aparelhos de TV de marcas como Samsung, LG e Sony.
Ainda no mundo da TV, a Apple anunciou um renovação de seu aplicativo de conteúdo, o Apple TV e uma nova área batizada de Channels, que funcionará como um agregador de conteúdos de serviços digitais como HBO e Hulu e também de operadoras de TV a cabo. Na semana passada, o fundador e presidente da Netflix, Reed Hastings, havia anunciado que a companhia ficará de fora dos novos serviços da Apple.
A fabricante do iPhone também ampliou sua presença no mundo financeiro com o lançamento de um cartão de crédito, o Apple Card. Emitido pelo banco Goldman Sachs com bandeira MasterCard, o cartão estará disponível no meio do ano nos EUA e funcionará dentro da carteira virtual da companhia, o Apple Pay, além de ter uma versão física feita em titânio que trará estampado apenas o logo da Apple e o nome do seu dono. O cartão também trará recursos de administração de gastos e um sistema de recompensa que dará dinheiro de volta ao consumidor (cashback) em um percentual de 2% para compras no varejo tradicional e de 3% nas lojas da marca.
Jennifer Bailey, vice-presidente do Apple Pay, destacou aspectos de privacidade do novo cartão e afirmou que dados de compras não serão acessados pela Apple nem vendidos a terceiros para uso em campanhas de publicidade.
Outra novidade é serviço de assinatura de notícias, o Apple News+, que custará US$ 9,99 por mês e trará material de mais de 300 publicações – dentre elas o “The Wall Street Journal”. A empresa também vai oferecer jogos por assinatura, no Apple Arcade.
A receita com serviços da Apple, que inclui a venda de aplicativos na App Store, o aluguel e a compra de filmes e música na iTunes triplicou nos últimos seis anos, saindo de US$ 3,7 bilhões no primeiro trimestre de 2013 para US$ 10,8 bilhões no mesmo período de 2019. No ano de 2018, a área representou 14% da receita de US$ 265,6 bilhões da companhia. Já o iPhone, que representa mais de 60% do que a companhia vende, atingiu seu auge em 2015, com 231,2 milhões de unidades vendidas. No ano seguinte, o número caiu para 211,9 milhões. Em 2017, voltou a crescer, para 216,8 milhões. Ano passado, foram 217,7 milhões.
Boa parte da estratégia de serviços da companhia se baseia no fato de ter uma base instalada de mais de 1,4 bilhão de iPhones e iPads no mundo – contingente que pode, em algum momento, pagar por algum dos serviços. “Um bilhão de bolsos, vocês ouviram? Um bilhão de bolsos”, disse Oprah em seu discurso. “Isso representa uma oportunidade genuína para causar um grande impacto”, completou.

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