Apesar da crise, chineses também querem mais salário. E com briga feia…

O que acontece se a economia chinesa parar? O mundo todo olha bem preocupado para os números vindos de Pequim. Todos, sem exceção, Alemanha e Estados Unidos incluídos. Ontem, as agências internacionais de notícias divulgaram, com bastante destaque, a existência de alguns problemas que não existiam na China algum tempo atrás, como tumultos em fábricas ou empresários pessimistas.
Depois de ouvir dois mil executivos de empresas e bancos, pesquisa feita por consultoria americana (CBB International) mostrou que os sete trimestres consecutivos  de desaceleração econômica atingiram o ânimo dos empresários. A pesquisa apontou que agora 20% menos das empresas esperam receitas maiores nos próximos seis meses do que em junho. A pesquisa revelou também que, apesar do governo chinês ter cortado os juros em junho e julho e os bancos terem facilitado o crédito “poucas empresas pegaram novos empréstimos”.
Ontem, um conflito em uma das fábricas da Foxconn (a mesma que tem projeto de se instalar no Brasil) deixou 40 pessoas feridas e envolveu mais de 2 mil operários. O incidente começou em um dormitório no domingo a noite e foi necessário o envio de 5 mil policiais para controlar a situação. A fábrica, na Província de Shanxi, tem 79 mil empregados. O conflito reflete crescente tensão nas fábricas que enfrentam constantes pedidos de melhores salários e melhores condições de trabalho, ao mesmo tempo em que há desaceleração da economia chinesa. A Foxconn, emprega 1,1 milhão de pessoas na China e tem na lista de clientes Apple, Dell, Amazon e Microsoft. Em março, a pedido da Apple foi realizada uma investigação sobre as condições de trabalho na Foxconn e foi feito acordo com os trabalhadores para melhorar o ambiente de produção.
O Brasil observa esse quadro todo com preocupação. A China é a maior compradora de produtos brasileiros. De janeiro a agosto o Brasil vendeu, por exemplo, US$ 15,7 bilhões em soja, 70% para os chineses. Metade do minério de ferro exportado é vendida para a China. O resultado dessa concentração de comércio é que a metade do saldo comercial brasileiro (a diferença entre o que Brasil vende e o que compra do estrangeiro) – que já somou US$ 13,6 bilhões até agosto neste ano – é produto dos bons negócios com a China.
Se a economia chinesa “esfriar” parte considerável da atividade econômica no Brasil também recuará. Há um debate importante a ser feito nessa história toda: está certo, apesar de todo o lucro, concentrar os interesses comerciais brasileiros em um único país? Mesmo que esse país tenha mais de um quinto da população mundial e seja, hoje, a segunda economia do mundo?

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