Ameaça dos EUA de taxar produtos da UE eleva tensão

A proposta do governo dos EUA de impor novas tarifas a produtos da União Europeia (UE) no valor de US$ 11 bilhões ameaça ampliar a tensão entre os dois aliados ocidentais e eleva o temor de que Washington possa visar a Europa depois de conseguir um eventual acordo comercial com a China.
A Casa Branca anunciou que está avaliando tarifas abrangentes como resposta aos subsídios da UE à Airbus, o grupo aeroespacial e de defesa europeu, que foram julgados ilegais pela Organização Mundial do Comércio (OMC). A lista de tarifas possíveis apresentada pelos EUA cobre uma ampla gama de bens, de aviões e helicópteros a produtos agrícolas delicados, como queijos e vinhos.
“A Organização Mundial do Comércio conclui que os subsídios da União Europeia para a Airbus impactaram negativamente os Estados Unidos, que agora vão impor Tarifas sobre US$ 11 bilhões de produtos da UE!”, escreveu o presidente Donald Trump ontem no Twitter. “A UE se aproveitou dos EUA no comércio por muitos anos. Isso vai acabar logo!”
Um funcionário da Comissão Europeia, órgão executivo da UE, disse que a cifra de US$ 11 bilhões se “baseia em estimativas internas dos EUA e não foi atribuída pela OMC” e era “muito exagerada”.
“O valor de retaliação autorizado pela OMC só pode ser determinado pelo árbitro nomeado pela OMC”, acrescentou o funcionário.
O anúncio ocorre num momento em que autoridades dos dois lados estão cada vez mais frustradas umas com as outras e pode colocar em risco a frágil trégua comercial acertada entre EUA e UE em julho.
Na época, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, fechou acordo com Trump para iniciar negociações comerciais e evitar a imposição de mais tarifas. Mas essas negociações ainda não começaram formalmente e as conversas preliminares não têm avançado. Os EUA têm criticado a relutância da UE em incluir a agricultura nas negociações, enquanto a UE está profundamente insatisfeita com as tarifas dos EUA sobre o aço e o alumínio europeus e a ameaça americana de impor novas tarifas a produtos automotivos.
A grande preocupação para a Europa é que Trump adote uma posição ainda mais agressiva com relação a Bruxelas depois que as negociações para resolver a disputa comercial dos EUA com a China forem concluídas, para manter a sua imagem de um presidente firme na questão do comércio.
“Nossa preocupação não é com as tarifas em si [apesar de que haveria uma escalada expressiva], mas com a possibilidade de que essa atitude possa abalar as negociações comerciais, que já são frágeis, antes mesmo que comecem”, disse Chris Krueger, analista do Cowen Washington Research Group.
Robert Lighthizer, o representante comercial dos EUA, sugeriu em declaração que as novas tarifas sobre produtos da UE se justificariam por causa do fracasso de Bruxelas em cumprir as regras da OMC. Segundo a declaração, a Airbus se beneficiou de uma “ajuda de lançamento” ilegal em detrimento da Boeing ao longo de muitos anos de disputas na entidade.
“Este caso está em litígio há 14 anos e chegou o momento de agir. O governo se prepara para responder de imediato, assim que a OMC divulgar sua conclusão sobre o valor das contramedidas dos EUA.”
“Nosso objetivo final é chegar a um acordo com a UE para acabar com todos os subsídios para grandes aviões não militares, que a OMC considere inconsistentes. Quando a UE parar com esses subsídios nocivos, as tarifas adicionais impostas pelos EUA como resposta podem ser suspensas.”
Bruxelas também está preparando medidas de retaliação próprias contra os EUA, com respeito ao fracasso de Washington em eliminar incentivos fiscais para a Boeing que prejudicam a Airbus.
“A UE vai requerer ao árbitro nomeado pela OMC que determine os direitos de retaliação da UE”, disse o funcionário europeu. “A comissão está iniciando seus preparativos de forma a que a UE possa tomar suas medidas rapidamente com base na decisão do árbitro.”
Ele acrescentou: “A UE continua aberta a discussões com os EUA, desde que sejam sem precondições e visem a um resultado justo.”
A Airbus afirmou ontem que não via “nenhuma base legal” na proposta dos EUA. A empresa declarou que já adotou “as medidas necessárias para cumprir com os elementos relativamente menores que restavam”, seguindo o relatório da OMC de maio de 2018 a respeito dos subsídios da Airbus.
Os EUA informaram que duas categorias de tarifas estavam sob consideração como resposta aos subsídios da Airbus. A primeira envolvia novos helicópteros, aviões e componentes originários de França, Espanha, Alemanha e Reino Unido – os quatro países onde a Airbus tem fábricas.
A segunda envolvia uma gama mais ampla de produtos de todos os países da UE, focada fortemente nas importações de alimentos. A lista proposta para tarifas mais altas incluía uma variedade de queijos e geleias. Frutas frescas também estão na mira, assim como pescados, frutos do mar e muitos tipos de vinhos.
https://www.valor.com.br/internacional/6205065/ameaca-dos-eua-de-taxar-produtos-da-ue-eleva-tensao#

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