A Itália estuda captar créditos do Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB, na sigla em inglês), liderado pela China, como parte dos planos para se tornar o primeiro país do G-7 (das nações mais industrializadas) a endossar o polêmico programa de investimentos mundiais da Iniciativa do Cinturão e da Rota (BRI), também conhecida como a Nova Rota da Seda.
Os dois países planejam “explorar todas as oportunidades de cooperação” na Itália e em “terceiros países”, de acordo com uma versão preliminar do documento obtida pelo “Financial Times”. O abrangente acordo incluiria áreas políticas, de transportes, logística e projetos de infraestrutura.
Diferentemente de acordos anteriores ligados à Nova Rota da Seda, os dois países “trabalhariam juntos com o AIIB em infraestrutura”, segundo o documento.
A versão preliminar do acordo mostra que a Itália está em negociações avançadas com a China e que resiste às pressões dos EUA e da União Europeia (UE) para abandonar essas discussões, em meio às preocupações cada vez maiores com as ambições de Pequim e com possíveis ameaças à segurança.
O governo italiano pretende assinar um “memorando de entendimento” sobre a BRI nesta sexta-feira, quando o presidente da China, Xi Jinping, visitar Roma.
O possível envolvimento do AIIB, um banco de desenvolvimento multilateral liderado pela China, indica que a Itália busca formas de aliviar os receios de Bruxelas, firmando um acordo que esteja em conformidade com as regras da UE.
Isso porque os empréstimos do AIIB seguem os padrões internacionais exigidos pela UE, incluindo leilões competitivos e estudos de impacto ambiental.
“O possível envolvimento do AIIB na BRI na Itália muda toda a história”, disse um diplomata da UE, em Bruxelas. “Sem o envolvimento do AIIB para financiar os projetos, seria difícil para a BRI ser viável em um país-chave da UE.”
O subsecretário de Estado de Relações Exteriores da Itália, Manlio Di Stefano, membro do partido 5 Estrelas, contrário ao establishment, disse: “Checamos tudo cuidadosamente” e definimos parâmetros baseados na Itália e na Europa, e alcançamos um acordo total em todas as esferas de governo”.
Até agora, a imensa maioria dos empréstimos de infraestrutura da BRI foi concedida pelo Banco de Desenvolvimento da China e pelo Banco de Exportações e Importações da China, duas instituições de crédito bilateral que concedem créditos em sigilo, quase sempre atrelados a contratos de construção com empresas chinesas.
Essa abordagem tem sido problemática no caso do projeto de uma ferrovia entre Belgrado e Budapeste, que vem sendo adiado porque a UE insiste em que a parte húngara da ferrovia seja aberta a leilões públicos, dentro das regras da UE.
Segundo a versão preliminar do acordo com a Itália, os dois lados concordaram em levantar barreiras comerciais e obstáculos a investimentos. “Haverá a assinatura do acordo principal e mais uma série de outros acordos auxiliares, cerca de 20, de vários tipos”, disse Di Stefano.
A BRI pretende financiar e construir infraestrutura em mais de 80 países na Eurásia, Oriente Médio e África. Os EUA e grandes países europeus temem que o plano favoreça empresas chinesas, crie armadilhas de endividamento para os países captadores e seja usado para estender a influência militar e estratégica de Pequim.
Os planos, revelados no início do mês pelo “Financial Times”, desencadearam reclamações em Washington e Bruxelas. Vários países da Europa Central e do Leste Europeu já endossaram a BRI, mas a Itália seria o primeiro país do G-7 a fazê- lo.
“O memorando será assinado”, disse o premiê da Itália, Giuseppe Conte, na sexta-feira, insistindo que não se trata de um “acordo internacional” e que o documento não tem caráter vinculativo.
Roma acredita que uma colaboração mais próxima com a China vai ajudar os italianos a resolver problemas como seu alto endividamento público e a migração ilegal da África. Desde a crise da dívida europeia, as empresas chinesas têm comprado sistematicamente ativos estratégicos italianos, como a rede elétrica do país, fábricas de alta tecnologia e marcas de luxo.
O acordo planejado entre Pequim e Roma é “muito importante para a Itália porque permitirá que nossas empresas sejam participantes essenciais no plano da BRI e tenham mais influência no mercado chinês, tanto para atrair investimentos quanto para entrar nesse mercado como protagonistas”, disse Di Stefano.