Ação europeia contra Google deve alterar cultura da empresa

A briga será tão grande quanto os seus futuros efeitos. União Europeia escalou uma investigação antitruste de cinco anos sobre o Google Inc., apresentando formalmente acusações contra o gigante americano de buscas, em uma ação que pode resultar em multas bilionárias e restrições severas na forma como ele faz negócios na Europa.

O regulador de concorrência da UE também formalizou uma investigação sobre práticas de negócios do Google ligadas ao sistema operacional para celulares Android, como mostrou material do The Wall Street Journal, assinada por Sam Schechner, publicada no Valor Econômico de 16/04, pg B11.

A decisão dos reguladores da Europa de apresentar acusações formais contra o Google por violar regras de concorrência pode levar a uma disputa de anos, obrigando a empresa a mudar suas práticas. Mas um exame da ação legal de peso mais recente movida pelo bloco europeu contra uma empresa de tecnologia de consumo supostamente dominante – a Microsoft Corp. – revela que o processo pode também ter um efeito duradouro em uma questão menos tangível: a cultura da empresa.

Quase 20 anos de uma disputa antitruste deixaram um grande impacto na Microsoft, dizem pessoas próximas à empresa. A contratação de uma legião de advogados e a adoção de um processo rigoroso para aprovar e elaborar produtos, entre outras coisas, fez com que a observância das leis – e, segundo alguns, até conservadorismo – se infiltrasse no DNA da companhia.

“A Microsoft tem agora uma mentalidade muito séria, não apenas antitruste, mas de cumprimento geral das leis”, diz Thomas Vinje, advogado antitruste que trabalhou contra a Microsoft durante o caso e agora trabalha para um grupo patrocinado pela Microsoft que vem desafiando o Google. “A companhia mudou em relação a esta questão.”

Algumas pessoas dentro e fora da Microsoft dizem que a mudança é para melhor, um sinal que a empresa se tornou mais madura e aceita suas obrigações legais. De fato, as autoridades europeias raramente têm se queixado da Microsoft, enquanto o Google e o Facebook estão sempre na mira dos reguladores.

Outros argumentam que a mudança deixou a Microsoft menos competitiva. A decisão de colocar advogados no processo de tomada de decisão sobre quais produtos comercializar não apenas tornou as coisas mais lentas mas dificultou o lançamento de produtos integrados que os usuários poderiam achar úteis, disse um ex-funcionário.

Embora os detalhes dos casos do Google e da Microsoft sejam diferentes – um é sobre reprodutores de mídia e servidores, enquanto o outro é sobre mecanismos de buscas e anúncios on-line – eles permanecem atados a algumas queixas fundamentais. Nos dois casos, os críticos alegam que as empresas abusaram de uma posição dominante para impulsionar seus próprios serviços em detrimento dos rivais.

A Microsoft foi multada em um total de 2,2 bilhões de euros (US$ 2,33 bilhões) na UE entre 2004 e 2013. Além disso, ela foi forçada a lançar uma versão especial do Windows e entregar a rivais milhares de páginas de especificações internas.

Alguns advogados questionam se as soluções que a UE aplicou tiveram muito efeito na Microsoft, já que poucas pessoas compraram aquela versão do Windows. Além disso, o mercado se aperfeiçoou, reduzindo a importância da Microsoft com a ascensão do browser Chrome, do Google.

O impacto cultural, contudo, deve ser duradouro. “Eles ainda acham que foram processados injustamente”, diz o advogado Vinje. “Mas agora entendem que, como empresa dominante, eles precisam seguir a lei.”

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