Chamadas de voz no WhatsApp podem mudar futuro do setor

Fernando Matijewitsch – aluno do 7o. semestre do curso de Comunicação Social da ESPM/SP

O SMS já virou passado. Segundo pesquisa feita pelo Ibope, 26% dos brasileiros possuem smartphone; destes, 89% se comunicam por meio de aplicativos de mensagens. O surgimento de apps como WhatsApp, Facebook Messenger, Skype e Viber mudou nosso comportamento em relação à comunicação. O estudo do Ibope também revelou que a realização de chamadas telefônicas caíram 64%.

O doutorando Flavio Thihara, em entrevista ao Estadão , ilustra bem o novo tipo de comportamento: “O app que eu uso varia de acordo com quem vou falar, mas SMS eu não uso mais. O telefone normal eu uso só para falar com meus pais, e mesmo assim com a minha mãe eu troco mensagem e áudio pelo WhatsApp todo dia”.

Essa situação pode piorar ainda mais. Desde o início de abril, o WhatsApp passou a oferecer chamadas de voz pela internet a usuários do Android. Claro que vários aplicativos já ofereciam o mesmo recurso antes, mas o potencial desse lançamento é significativo, uma vez que o WhatsApp é um dos apps mais populares entre os brasileiros. Conforme revelou o próprio aplicativo no começo de 2014, 38 milhões de pessoas utilizavam mensalmente o serviço de mensagens no Brasil.

Portanto, chegou a hora das operadoras mudarem de postura. A antiga visão de que os aplicativos de mensagem e voz eram “inimigos” não se encaixa mais no cenário em que vivemos.

O ano de 2015 será o ano de virada no setor, segundo a empresa de consultoria e análise Ovum. Pela primeira vez, a participação da receita de dados pode ultrapassar a de voz e SMS em nível global. No Brasil, as chamadas de voz continuam donas da maior parte do faturamento, mas não demorará muito até que as posições se invertam. No último trimestre de 2014, os dados representaram 38,6% da receita total na Vivo.

A IDC ajuda a concluir que, realmente, o futuro das operadoras está nos pacotes de dados. Segundo a empresa de pesquisa, 70 milhões de celulares foram vendidos no Brasil em 2014; 78% deles eram smartphones (3G e 4G).

A Tim já está se adequando à nova realidade. A empresa está investindo muito mais em mobilidade: R$ 14 bilhões até 2017. Roger Solé, diretor de marketing da empresa, comentou a nova estratégia para o Estadão: “nós temos o produto que todos querem, que é a conexão móvel. Em vez de ficar chorando que os apps estão substituindo nossos produtos, estamos criando novas oportunidades”.

Nesta nova era do setor, a estratégia adotada por várias operadoras no mundo é a de “zero rating”, isto é, o oferecimento de planos em que o usuário possa utilizar algum aplicativo sem que nenhum valor seja descontado do seu pacote de dados.

A Tim já fechou parceria com o WhatsApp. A Oi está junto com o Facebook, Twitter, Opera e outros apps. Essa simbiose deve continuar. Os antigos “inimigos” devem e precisam virar parceiros. Segundo Eduardo Tude, da consultoria Teleco, “as operadoras sabem que o futuro delas é receita de dados. Quando ela investe em 3G e 4G, passa a depender também desses apps, porque são eles que vão atrair o usuário a comprar pacote de dados”.

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