A “revolução conservadora” de Margareth Thatcher

Contar a trajetória pessoal da filha de um pastor, que possuía um pequeno comércio, até o posto de primeiro-ministro –  a única mulher a exercer o cargo na história britânica – ficou por conta do filme A Dama de Ferro, que rendeu o terceiro Oscar a Meryl Streep. O filme, de 2011, é importante para mostrar a força das convicções nas atitudes, primeiro pessoais depois políticas, de Margareth  Hilda Roberts, nascida em Grantham, nas Midlands, que estudou Química em Oxford porque ganhou uma bolsa. Em Oxford, foi presidente da Associação  Conservadora. Formou-se em Direito depois de casar, em 1951, com Denis Thatcher, alto executivo da indústria do petróleo.
Desde antes do casamento tentou a carreira política. Só conseguiu o primeiro mandato na Câmara dos Comuns em 1959. A subida foi rápida, dois anos depois já era Secretária de Assuntos Sociais, e em 1975 foi nomeada ministra da Educação. Aumentou o orçamento da educação, mas cortou o leite que era gratuito para todos nas escolas inglesas, porque a função do estado, nas convicções dela, era fornecer educação não leite. Ganhou um apelido da oposição trabalhista: “Thatcher, the MilK Snatcher”, algo como “ladra de leite”. Chamou a atenção do eleitor britânico descontente com a excessiva presença do estado na economia. Em 1979, ganhou a eleição para primeiro ministro pelo Partido Conservador, prometendo o mesmo de quando foi ministra da Educação: diminuir o papel do estado na vida dos britânicos.
O site da revista The Economist, ontem, chamou a atenção para o fato de que Thatcher moveu o pêndulo da política britânica para direita, alterando a história política inglesa do pós-guerra,  de forte proteção social assegurada pelo Estado. O ponto alto da política da Dama de Ferro foi diminuir o poder dos sindicatos na vida política e promover privatizações contínuas cortando a presença do Estado na economia.
As propostas dela não ficaram restritas à Inglaterra. A vitória do republicano Ronald Reagan nos Estados Unidos, em 1980, um ano e meio depois da chagada ao poder de Thatcher foi influenciada pelas ideias dela. Mesmo os seus maiores adversários reconhecem que suas propostas de apoio à livre iniciativa na economia e de apoio à liberdade dos indivíduos na política ganharam adeptos e provocaram mudanças no mundo todo. A The Economist fez observação que resume bem a relevância da política de Thatcher: Winston Churchill ganhou a Segunda Guerra Mundial, mas não conseguiu criar em torno de seu nome um “ismo”. É indiscutível que o “thatcherismo” formou uma escola de pensamento político que alterou o curso da História nas duas últimas décadas do século XX.
A força das convicções de Thatcher foi posta a prova, em 1982, na Guerra das Malvinas, como preferem os argentinos, ou das Falklands como gostam os ingleses. O filme A Dama de Ferro reproduz situação histórica bem documentada sobre a resistência dela, mesmo em relação às pressões da diplomacia norteamericana, para dar uma solução política e não militar ao conflito. Não foi diferente quanto ao que acreditava ser o melhor para economia britânica: forte apoio à livre iniciativa. É curioso, mas, o maior legado do “thatcherismo” talvez tenha sido o fato de que o governo dos trabalhistas de Tony Blair que chegou ao poder em 1997, derrotando os conservadores herdeiros de Thatcher, não alterou os principais pontos da política da Dama de Ferro.

Comentários estão desabilitados para essa publicação