A sigla BRICS ficou pequena. O motivo é simples: já é bem visível uma nova classe média global, que deixou a pobreza e entrou no mundo do consumo. Quem duvida deste movimento deve pensar no seguinte dado: em 2011, 60 milhões de chineses viajaram ao exterior. Em 2015, 130 milhões de chineses conhecerão o mundo e em 2020 serão 200 milhões. O cálculo já leva em conta, por exemplo, a provável desaceleração controlada da economia chinesa no próximo ano.
A ascensão de uma nova classe média global não está restrita, obviamente, à Ásia. Um estudo bem detalhado da área internacional do banco HSBC mostrou como está a evolução dos padrões de consumo de massa em países que estão enriquecendo rápido, como Índia, Filipinas, Peru ou México, além da China, é claro. O Brasil também aprece nesse relatório, mas as previsões não são tão aceleradas.
A lógica de análise dos economistas do banco é simples: a medida que a renda cresce, comida e outros produtos básicos, como limpeza, deixam de pesar tanto no orçamento doméstico E, portanto,sobra mais recurso para alcançar os produtos que deixam a vida “mais divertida”. A conta é fácil de entender: gasto com comida quando a renda está estagnada em US$ 1 mil /mês ocupa 43% desse orçamento. Nessa faixa de renda, restaurante e hotel ocupa apenas 2,9%. Em outras palavras, é só emergência não lazer. Quando essa renda dobra ou triplica – como aconteceu na última década nos países emergentes – o peso da comida despenca e novos fatores de consumo aparecem. Parte deste estudo foi publicada na edição de 21 de outubro do Estadão, na pg B14.
O mais interessante do estudo é a “inversão” que sinaliza. Hoje, a demanda por roupa, por exemplo, está concentrada em 65% nos países desenvolvidos e os 35% restantes nos emergentes. O banco estima que essa proporção irá se inverter nas próximas décadas. A maior dessas inversões entre ricos e emergentes, na visão do estudo, deve ocorrer no uso dos chamados serviços financeiros. Hoje, 82% desses serviços estão concentrados nos países ricos de hoje. Em duas décadas, essa porcentagem deve despencar para 44%. O consumo de aparelhos portáteis eletrônicos de alta tecnologia acompanhará essa tendência: hoje apenas 24% desse consumo estão nos emergentes, mas no futuro de médio prazo deve chegar a 55% da demanda. Isso já é um fato, por exemplo, com a venda de smartphones na China e na Índia
A crise na Europa também já deixou essa situação mais visível: o consumo de produtos de alto luxo dependeu nos últimos 18 meses dos ávidos consumidores chineses, indianos, russo e até brasileiros.
O mundo do consumo melhor já mudou. Quem acha que os aeroportos estão lotados demais no mundo todo, deve esperar dias piores. O estudo do HSBC mostrou que 20% dos americanos, 34% dos franceses e 13% dos japoneses viajam para o exterior anualmente. Porém, só 4,3% dos chineses, 2,7% dos brasileiros e 1,2% dos indianos o fazem. O banco avisou que a renda dos chineses deve multiplicar por sete no futuro de médio prazo, mesmo com a crise, o que significa um salto enorme nos gastos novos da nova classe média. Não será muito diferente nos outros países emergentes.