Quase dois terços dos brasileiros que usam redes sociais (63,5%) dizem que confiam pouco ou que não confiam nada nessas plataformas. O resultado é mais alto que os 50,3% que dizem nutrir os mesmos sentimentos em relação aos meios de comunicação em geral. Ao mesmo tempo, porém, sete de cada dez usuários de sites e aplicativos como Facebook, WhatsApp e Twitter, entre outros, afirmam que não têm desconfiado de notícias sobre política que recebem por meio dessas plataformas.
A combinação desses dados sugere a existência de um número significativo de brasileiros conscientes dos problemas de manipulação e informações falsas na internet, mas incapazes de se perceberem como alvos ou vítimas desses problemas, como mostrou artigo do Valor Econômico, assinado por Ricardo Mendonça, publicado em 21/05.
As informações fazem parte de uma pesquisa quantitativa nacional realizada pelo Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação, parte do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT). A organização é composta por representantes de quatro instituições acadêmicas principais (UFMG, Iesp/Uerj, Unicamp e UnB).
O cientista político Leonardo Avritzer, pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais que liderou o estudo, destaca o número alto de eleitores aparentemente desatentos para a circulação de notícias falsas. “Mostra que o nível de informação sobre o problema é muito baixo”, disse.
“Esses dados acendem um alerta sobre o processo eleitoral, considerando que a internet terá um papel muito maior neste ano. Provavelmente as pessoas confiam nas notícias que recebem de amigos e familiares, afinal isso é compatível com os dados de confiança em amigos e familiares.”
O levantamento foi feito entre os dias 15 e 23 de março com 2,5 mil entrevistas em 25 Estados e no Distrito Federal (a exceção foi o Amapá). A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
A pesquisa também mapeou a frequência e o perfil de uso da internet como fonte de informação. No Brasil, o acesso à rede mundial está próximo de 70% da população. Desse conjunto, conforme a pesquisa, 17,4% usam a internet como principal meio para se informar sobre política.
Os entrevistadores também perguntaram sobre os sites e aplicativos mais usados para se informar sobre política. O Facebook é o líder, com 27,9% das citações. É seguido bem atrás por WhatsApp (12,8%) e pelo site de vídeos YouTube (4,1%). Quase metade, porém, disse que não usa redes sociais para se informar sobre política ou não se preocupa com o assunto.
O alcance do Facebook e do WhatsApp como principais redes sociais para se informar sobre política fica ainda mais evidente quando os entrevistados respondem qual é a segunda rede mais usada. As duas plataformas também lideram, mas em ordem invertida: 15,4% mencionaram o aplicativo de mensagens instantâneas; 9,3% citaram o Facebook.