Fuga do primeiro-ministro sírio não é bom sinal para a paz.

O recém nomeado primeiro–ministro da Síria, Riad Hijab, fugiu o país e buscou exílio na Jordânia. Ele saiu dizendo que abandonava um “governo terrorista”. Além do cargo que ocupava, Hijab tinha também muita importância por ser da maioria sunita. Vários representantes de governos ocidentais consideraram que esta foi a baixa mais relevante dos 17 meses de conflito na Síria. A secretaria de Estado norte-americana Hillary Clinton fez declaração contundente dizendo que os dias do regime de Bashar Assad “estão contados”.
Analistas independentes, no entanto, relativizaram a importância dessa fuga. Pela Constituição síria, o primeiro-ministro é chefe do Conselho de Ministros e pode até substituir o presidente por o máximo de 90 dias. Bashar Assad, como seu pai, é o chefe de Estado, enquanto o primeiro-ministro é chefe de governo. Na prática isso não significa divisão de poder. Na Síria , o presidente domina todas as funções de Estado e de governo, a começar do fato de que pode nomear e demitir o primeiro ministro quando bem entender.
A fuga de Hijab, no entanto, pode também significar que os poucos sunitas que ainda tinham ligações políticas com o regime do alauíta, Assad, apenas o abandonaram. Quando os vínculos políticos desaparecem é sinal de que as tensões, inclusive armadas, aumentaram. Artigo de do The New York Times (traduzido na pg A10 do Estadão de hoje) mostra o risco, já bem real, da violência sectária entre sunitas e alauítas ultrapassar a fronteira síria. Na Turquia, por exemplo, a relação de poder é inversa: os sunitas também são a maioria e os aluítas estão longe do poder político. Mas, viviam em paz até agora. Entre 15 e 20 milhões de alauítas vivem na Turquia e apoiam abertamente o regime Assad, enquanto o governo turco não esconde o seu declarado apoio para a oposição síria. Dos 88 milhões da população turca, 98% é islâmica, dividida não só entre sunitas e alauítas. Se a guerra civil se agravar na Síria, o conflito pode atravessar a fronteira turca, alerta o New York Times.
A fuga do primeiro-ministro Hijab, pode não ter maior significado militar, mas tem forte sentido político. As forças armadas do governo sírio estão prestes a completar o cerco do maior reduto da oposição na cidade de Alepo. Parece contraditório, mas não é: uma solução militar para Síria, com a derrota dos rebeldes pode não significar paz. Quem a trará será o entendimento político entre sunitas e alauítas. Por essa razão, a fuga do posto do premiê não é um bom sinal par a paz.

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