A ameaça chega a ser repetitiva: se China desacelerar, as exportações brasileiras sofrerão. E muito. Isto quer dizer que parte da renda e dos empregos do agronegócio deve diminuir. O pior é que o outro gigante asiático, o Japão, também enfrenta problemas e pode comprar menos produtos básicos do Brasil.
O curioso é que as vendas para chineses e japoneses caíram significativamente, mas as exportações gerais para Ásia não recuaram tanto assim. Motivo: outros países da região como Índia, Tailândia, Vietnã ou Filipinas compraram pesadamente do Brasil. A rigor, o Brasil exportou principalmente petróleo e derivados para esses países. No final das contas, os números revelam enorme surpresa: o aumento das vendas brasileiras para esses países, de mais de US$ 1 bilhão, foi mais do que suficiente para cobrir a queda de US$ 300 milhões nas compras de minério de ferro ou cobre por parte dos gigantes China e Japão.
Os técnicos do Ministério do Comércio mostraram idêntica surpresa. Afinal, empresas brasileiras quando pensam em exportação tradicionalmente visam América Latina e Estados Unidos. Ásia é entendida como China e Japão. Não é mais desse modo.
A abertura dos novos mercados na Ásia acentuou também a venda de produtos básicos, como petróleo, soja, algodão e milho. Nos primeiros sete meses deste ano, as vendas para o continente asiático subiram 35% em relação ao mesmo período do ano passado apesar da retração da economia japonesa e chinesa. Um bom exemplo dos novos mercados é a Tailândia: em 2011 este país não comprou um grão de soja do Brasil; em 2012, pela primeira vez comprou nada menos do que US$ 400 milhões só no primeiro semestre deste ano. Outro exemplo é a Índia: em 2011 este país era o 20º consumidor de produtos brasileiros. No primeiro semestre deste ano passou para 8º, comprando basicamente petróleo, óleo de soja, açúcar e minério de ferro.
O governo brasileiro não esconde a preocupação com o fato de que 73% das exportações brasileiras para a Ásia são de produtos básicos. Porém, curiosamente, a Tailândia comprou também autopeças do Brasil. A Coréia do Sul, país altamente industrializado, comprou tubos de ferro e laminados do Brasil, um mercado inédito.
Parece estranho exportar para Ásia fora da China e do Japão. Os novos mercados na região têm potencial de compra muito alto, inclusive pelos efeitos multiplicadores do crescimento da China em toda a Ásia. É curioso e até contraditório, mas a expansão da economia chinesa na Ásia toda gerou novos mercados. E o Brasil está se aproveitando disso. É um jeito bem novo da chamada globalização econômica.