Fernando Matijewitsch – aluno do 7o. semestre do curso de Comunicação Social da ESPM/SP
Ao ser perguntado sobre o motivo pelo qual apenas assaltava bancos, John Dillinger, um dos maiores gangsters americanos, respondeu: “é lá que o dinheiro está”. Talvez com o mesmo pensamento, as gigantes de tecnologia do Vale do Silício planejam virar o setor financeiro do avesso.
Este é um dos grandes temores do centro financeiro de Londres. Como mostrou matéria publicada pelo Le Monde e traduzida pelo UOL, não há conferência em que a possibilidade de ver empresas como Google, Amazon e Facebook repentinamente transformando a indústria das finanças não seja mencionada. Depois de tantos setores da economia serem revolucionados por essas empresas (música, jornais, táxis, livros, varejo, entre muitos outros), estaríamos vivendo o momento em que os bancos e gestores de ativos sofrerão mudanças?
O setor financeiro, simplificando, funciona da seguinte maneira: pequenos poupadores procuram consultorias, que lhe recomendam variados planos de economia; o dinheiro dos consumidores vai para fundos de pensão, que, por sua vez, encarregam diferentes empresas de gestão de ativos para multiplicar seus capitais.
Dessa maneira, os intermediários são muitos e a maioria dos gestores não tem nenhum contato com aquele que investiu sua poupança. Como se sabe, a internet tem um grande histórico de impacto nos intermediários. As bandas, por exemplo, conseguem falar diretamente com o seu público hoje em dia. Foi-se o tempo que as gravadoras tinham um papel importante nesse processo.
A Alibaba é prova de que o mesmo fenômeno pode ocorrer nos investimentos. Em 2013, o e-commerce chinês lançou fundos de “money market”: investimentos de curto prazo destinados a gerar um excedente de liquidez e que podiam ser pedidos diretamente pelo smartphone. O resultado? No terceiro trimestre de 2014, a Alibaba estava gerenciando US$ 87 bilhões em ativos.
Além da facilidade e conveniência, outra vantagem única das gigantes da tecnologia é o conhecimento que possuem de cada usuário. Google e Facebook conhecem os hábitos de todos nós, conseguem prever, pelas informações de navegação, se os usuários pretendem comprar um carro, ter um filho, entrar na faculdade ou se têm problemas de dívidas. Todos esses dados podem ser utilizados na sugestão de produtos financeiros adequados para cada situação. Christian Dargnat, presidente da Associação Europeia de Gestão de Ativos e de Fundos de Investimento, disse ao Le Monde: “o Google e os outros são bem melhores do que nós nisso. Nenhuma empresa de gestão tem um conhecimento tão apurado assim de seus clientes”.
O Vale do Silício já demonstrou interesse no assunto e começa a crescer no mercado. Em 2013, o Google encomendou um estudo sobre a melhor maneira de ingressar na gestão de ativos e, desde janeiro de 2015, usuários britânicos do Gmail têm a possibilidade de transferir dinheiro através do correio eletrônico: é só informar seus dados bancários, indicar a quantia a ser transferida, dar o endereço de e-mail do destinatário e inserir um código PIN de segurança.
Outros exemplos: no iPhone 6, a Apple incluiu um sistema de pagamento automático, fazendo com que sua aproximação de leitores específicos completem a transação após o reconhecimento da impressão digital do usuário, e o Facebook Messenger se tornou capaz de realizar transferências de dinheiro entre amigos nesse ano.
Após a crise mundial, os grandes bancos viram sua imagem se degradar perante o público. Mesmo que todo esse movimento da indústria tecnológica ainda esteja longe da gestão de ativos em larga escala, Éric Albert, do Le Monde, afirma: “aos poucos, os clientes vão criando o costume de confiar seu dinheiro à Apple ou ao Google. Assim como com o comércio eletrônico, as barreiras psicológicas estão caindo: hoje pagar pela internet se tornou algo comum, sendo que até uma década atrás o grande público ainda hesitava”.