Millennials querem trabalhar em organizações que lutam por um propósito, não apenas por lucros

Fernando Matijewitsch – aluno do 7o. semestre do curso de Comunicação Social da ESPM/SP

Os Millennials são cercados por um certo mistério. Projetamos sobre essa geração o pior e o melhor da nossa sociedade. Ao mesmo tempo em que achamos todos preguiçosos e apáticos, também os vemos como progressistas e pessoas que se importam com o mundo em que vivemos. Sabendo que estão se tornando, cada vez mais, importantes consumidores e membros do mercado de trabalho, é essencial descobrirmos como eles realmente enxergam e querem construir nossa sociedade.

Durante os últimos anos, a Deloitte conduziu a Millennial Survey, dedicada a avaliar o que a geração, que hoje compõe a maioria da força de trabalho, pensa sobre o papel das empresas no mundo. O grande resultado: o foco no propósito e nas pessoas é, para a grande maioria dos entrevistados, tão importante quanto a capacidade da companhia de gerar lucro. 75% dos Millennials acreditam que as organizações estão muito fixadas em suas próprias agendas e não estão suficientemente focadas em ajudar a melhorar a sociedade.

Para 6 em cada 10 Millennials, esse “senso de propósito” é parte da razão pela qual escolheram trabalhar para seus atuais empregadores. Entre os que são, relativamente, usuários assíduos de redes sociais, essa valorização é ainda maior. 77% desse grupo comenta que o propósito da companhia foi a razão pela qual escolheram trabalhar lá, sendo que apenas 46% dos “menos conectados” responderam o mesmo.

“A mensagem é clara: quando olham para seus objetivos de carreira, os Millennials são tão interessados em saber como uma empresa desenvolve seus funcionários e suas contribuições para a sociedade quanto são em seus produtos e lucros”, disse Barry Salzberg, CEO da Deloitte Global. “Estes resultados devem ser vistos como um alarme valioso para a comunidade empresarial, principalmente nos mercados desenvolvidos, que precisam mudar a forma como se dá o engajamento desses talentos ou correm o risco de ficarem para trás”, complementou.

Enquanto acreditam que a busca pelo lucro é, sim, importante, o mesmo precisa ser acompanhado por um propósito bem definido pelo qual a empresa verdadeiramente luta, por esforços para criar produtos e serviços inovadores, pelo impacto positivo de suas atividades e, acima de tudo, pela consideração dos indivíduos como funcionários e membros da sociedade. Para os Millennials, esta é a definição de uma organização líder.

Segundo a pesquisa, Google e Apple (11%), Coca-Cola (6%), Microsoft (5%) e Samsung (4%) são as cinco empresas que mais fortemente representam liderança para essa geração, destacando a força do setor de Tecnologia, Mídia e Telecomunicações (TMT). No total, 33% das nomeações foram de organizações pertencentes ao TMT, três vezes mais do que as representantes do setor de Alimentos e Bebidas (10%) e quatro vezes mais do que aquelas do setor de Bancos e Serviços Financeiros (8%).

“A tecnologia está recorrentemente mudando o jeito que as pessoas vivem. A inovação tecnológica se tornou uma das forças principais para promover progresso social e desenvolvimento”, destacou um dos pesquisados chineses ao responder porque o setor de Tecnologia, Mídia e Telecomunicações seria aquele em que mais gostaria de trabalhar.

Steve Almond, presidente global da Deloitte, analisou a resposta acima. De acordo com o executivo, “os Millennials traduzem esta questão da forte liderança em ‘quais são as companhias que eu associo com tecnologia e que mudam o jeito que eu vivo?’ Há várias inovações acontecendo na indústria automobilística, por exemplo, mas elas não são tão vistas no nosso dia-a-dia”.

A figura do líder clássico também é questionada. Talvez inspirados por Steve Jobs, que comandou uma enorme empresa de tecnologia sem sequer ser programador ou designer, os Millennials entrevistados não se importam tanto em serem liderados por pessoas tecnicamente qualificadas. Ao invés disso, procuram por líderes que são inspiradores, estratégicos, dedicados e visionários.

No livro Cultura de Massas no Século XX, Edgar Morin comenta que o “trabalho em migalhas”, ou seja, a execução mecânica, repetitiva e contínua de uma tarefa no ambiente de trabalho, acabou por negar a criatividade e a personalidade do trabalhador, que, a partir desse momento, procurou se reencontrar e estabelecer sua identidade durante o momento de lazer. Hoje, vivemos em um tempo onde a maior realização é reunir prazer e trabalho, fazer algo que amamos. Isto não foge do lazer. O que os Millennials querem é expandir a defesa de seus propósitos e reafirmação de suas identidades também no âmbito profissional de suas vidas.

O estudo contou com mais de 7.800 entrevistados de 29 países, incluindo o Brasil. Todos os participantes da pesquisa nasceram depois de 1982, já conquistaram seu diploma universitário, trabalham em período integral e, predominantemente, são empregados de grandes empresas do setor privado.

Para ver o relatório completo da pesquisa, clique aqui (conteúdo em inglês).

Comentários estão desabilitados para essa publicação