Rose Mary Lopes
Nunca abordei sobre o empreendedorismo corporativo e o intraempreendedorismo, que também são aspectos muito importantes do empreendedorismo e até confundidos. Aliás, até 20 anos atrás a fronteira entre os dois fenômenos era mais nebulosa ainda.
Ambos se relacionam com o estímulo e a manutenção do chamado espírito empreendedor nas organizações e negócios, principalmente quando estes já venceram as fases iniciais e de estruturação interna e de crescimento, com definição de funções, processos, normas etc. Aí, se não houver vigilância, o espírito e comportamentos empreendedores vão embora cedendo lugar a rotinas e burocracia.
Também tem a ver com a estimulação e manutenção contínuas de inovação, e merece ser destacado aqui o velho Schumpeter que atrelou o empreendedor à introdução de mudanças e inovação. Pois, o empreendedor rompe a inércia e o equilíbrio atuais ao propor novos produtos, novos processos, a substituição e/ou uso de novas matérias primas.
Pode ainda propor a abertura de novos mercados para os produtos e serviços. E, se a inovação for radical, introduzindo novos conhecimentos e tecnologia (o que é mais raro), fará com que o negócio alcance um nível difícil de ser atingido (pelo menos por um tempo), gerando uma vantagem e posição competitivas únicas.
Pois bem, os empreendedores, sucessores e gestores necessitam monitorar o ambiente e as condições internas do negócio ou da organização para que não se tolha a capacidade de criar e de inovar de seus colaboradores.
Assim, o empreendedorismo corporativo é bastante amplo e relaciona-se com o comportamento empreendedor dos funcionários – que é o intraempreendedorismo. Afinal o intraempreendedor é aquele indivíduo que manifesta o comportamento empreendedor e certa inconformidade, pois está atento às oportunidades e motivado para buscar formas de melhorar e de inovar.
Em verdade o empreendedorismo corporativo abrange o intraempreendedorismo. Abrange ainda a renovação estratégica do negócio, a criação de novos negócios ou empresas a partir da “empresa mãe”, a orientação empreendedora e novas formas de gestão empresarial.
Deste modo, o empreendedorismo corporativo / organizacional se refere à criação e manutenção do ambiente interno propício e estimulador da inovação e de mudança. Consequentemente, abarca tanto as características do modelo de gestão bem como as condições organizacionais internas.
Afinal, são o modelo de gestão e as condições internas que incentivam ou não o comportamento intraempreendedor dos colaboradores que tem o perfil e potencial para se comportar de modo empreendedor.
Percebe-se então, que são diversos os fatores que podem podar ou estimular o empreendedorismo corporativo. Neste sentido, outro autor (Brazeal) indicou que sem o suporte gerencial, ou seja, sem que os principais gestores e líderes da organização estimulem e demandem a inovação e a reconheçam, o desejo e espírito empreendedor estarão apagados em seus liderados.
Conceder mais autonomia e empoderamento ao time de colaboradores é um dos fatores que podem atiçar a chama empreendedora. O que é possível se os critérios e objetivos de trabalho forem aclarados, se houver certa flexibilidade para os insucessos, e que as fronteiras da empresa não sejam fechadas. O que significa ter abertura para busca e troca de informações, tanto dentro quanto fora da organização.
Mais ainda: que se sinalize a possibilidade de empregar pelo menos uma pequena parcela de tempo em busca tanto de informação, quanto de alternativas de solução, parcerias, testes, etc. Sem isto ficará difícil fazer algo diferente do que já se faz, ou propor algo que saia da rotina e dos procedimentos atuais.
Os esforços dos desbravadores, dos inovadores, dos que sugerem alternativas novas, procedimentos, produtos, mercados, reposicionamentos, reaproveitamento e novos usos de recursos, nova estratégia precisam ser destacados, valorizados e celebrados. Para gerar um ciclo virtuoso de exemplos na empresa / organização.
Os desafios do time fundador se iniciam quando criam o negócio ou organização, mudam e até aumentam durante a dura fase de torná-los viáveis e sobreviver. Ampliam-se mais ainda quando estão alavancando o crescimento, em que precisam atrair e manter pessoas para assumir funções, mas que desejem contribuir e se comportar de forma empreendedora.
Mesmo depois, os empreendedores, gestores e executivos não podem abaixar a guarda, pois se não mantiverem aceso o impulso empreendedor, arriscam-se de perder o que foi duramente conquistado. A cultura e as condições internas precisam ser monitoradas e corrigidas para sinalizar continuamente de que é possível, viável, interessa e vale a pena estar motivado e entusiasmado para inovar.