Por Pedro Fernando Malizia Solino, aluno do 5° semestre do curso de Propaganda e Marketing ESPM / SP
Recentemente, a ex-atriz pornô Marina Ann Hantzis, mais conhecida como Sasha Grey, veio ao Brasil para divulgar seu primeiro livro “Juliet Society”, sobre um clube de sexo mantido por figurões da alta sociedade na visão de uma jovem de 18 anos descobrindo sua sexualidade. Segundo a autora, o livro foi escrito a partir de suas próprias experiências para dar origem à personagem e à narrativa.
Sasha Grey, aposentada da indústria pornográfica desde 2011, tem 25 anos, é escritora e vocalista de uma banda de rock. Segundo dados da livraria Cultura, Grey atraiu recorde de público para uma noite de autógrafos em uma única loja. Ela é um raro caso de personalidade que obteve reconhecimento na indústria pornográfica e conseguiu sucesso em outras áreas. Seu número de fãs pelo Brasil e pelo mundo comprova isso. Apesar de tudo, em sua entrevista ao programa “Agora é Tarde”, de Danilo Gentili, ela relata casos recentes de preconceito que sofreu. Eu poderia fazer milhares de perguntas, porém todas iriam ser direcionadas para o mesmo questionamento: Por que é tão mal visto as mulheres explorarem sua sexualidade abertamente, ou melhor, “serem putas”?
A repressão da sexualidade feminina começou no período neolítico (por volta de 10000 à 8000 A.C.), a partir da percepção de sua função biológica, como argumenta a sexóloga e psicóloga Mariza Almeida. A autora Regina Navarro Lins complementa que a mulher era reprimida pela questão da herança – se houvesse controle sobre a paternidade, era fácil determinar os herdeiros legítimos das propriedades das famílias. Dessa forma, a mulher deveria manter uma relação de exclusividade recíproca com seu marido, ou seja, monogâmica. Porém, o discurso que as religiões pregavam era que só assim a mulher seria considerada “pura” para seu marido. Segundo essa linha de pensamento, sentir atração por pessoas fora do casamento se tornou mal visto pela sociedade, o que era justificado pelos livros sagrados de cada religião. Essa mentalidade já existia no Brasil devido à influência dos Jesuítas em nossa formação política, porém foi apenas imposta aqui pelos portugueses no período vitoriano, com a vinda da Corte Portuguesa ao Rio de Janeiro em 1822.
Na chamada Era Vitoriana, aumentou-se a repressão, tornando a rigidez desses valores muito mais forte. A mulher precisaria ser recatada, pois assim haveria maior controle sobre a natalidade advinda de incestos. Porém, paradoxalmente, foi aberto espaço para a sexologia, como os estudos de Freud. Ao longo do tempo, com a emancipação da mulher e o advento de anticoncepcionais, essa regra moral foi perdendo seu sentido original e se transformando em um pensamento puramente conservador.
Estes são alguns dos muitos fatores que limitaram a exploração da sexualidade das mulheres. Devido a essa mentalidade estabelecida ao longo dos anos, atualmente é comum a aversão ao sexo. Esse tema até hoje é considerado “tabu” para muitas pessoas, gerando uma forma de opressão conhecida como slut-shaming – o ato de induzir uma mulher a se sentir culpada ou inferior devido à prática de certos comportamentos sexuais que desviam de expectativas tradicionais de seu gênero.
Apesar dos muitos anos em que esse senso comum esteve enraizado, a partir da década de 60 com a introdução da pílula anticoncepcional, o evento de Woodstock nos Estados Unidos, entre tantas outras lutas, as mulheres têm conseguido ganhar mais e mais espaço para as novas gerações se desprenderem de valores conservadores, como os da Era Vitoriana. Mulheres como Sasha Grey são exemplos de que estamos mudando. Sinto que, apesar de lenta, a tendência é de mudança no pensamento conservador e, consequentemente, na repressão e controle do comportamento feminino, permitindo que mulheres sejam mais livres para explorar suas sexualidades e menos pressionadas a manter uma postura recatada. A própria autora Maliza Almeida conclui que “atualmente, a amarra mais comum que não permite a mulher exercer sua sexualidade livremente é ela própria”.