Facebook financia o acesso gratuito à internet para Zâmbia

Quando você pensa nos bilhões de pessoas no mundo que não tem acesso à internet, provavelmente você pensa em pessoas que vivem em áreas muito remotas, onde ela simplesmente não está disponível. Mas mesmo que apenas um terço das pessoas do mundo esteja ligada à internet, 85% da população do mundo vive na área de cobertura de uma rede de celular que oferece serviço de dados “over-the-air”.

Em um esforço para fazer aqueles deixados para trás se juntarem à era digital, a Internet.org – organização sem fins lucrativos apoiada pelo Facebook- está lançando um aplicativo que dá acesso gratuito à internet de dados e a um punhado de serviços essenciais para as pessoas na Zâmbia. Os serviços disponíveis gratuitamente são, na sua maioria, focados na saúde, emprego e informação local. É um grande passo- se apenas um passo- para levar o resto do mundo para o online.

Como Mark Zuckerberg observou no Mobile World Congress no começo deste ano, “A parte mais cara a respeito de possuir smartphone e estar conectado à internet não é o smartphone, são os dados.” Esta nova iniciativa é uma tentativa de resolver o problema de custo, oferecendo serviços de dados livres para aqueles que, em outro contexto, poderiam não ter o dinheiro para pagar.

Agora, o aplicativo e site só estarão disponíveis para assinantes da Airtel na Zâmbia, mas a organização planeja disponibilizá-lo por meio de mais operadoras em outros lugares de todo o mundo nos próximos meses. Usuários de smartphones serão capazes de instalar o aplicativo, enquanto os usuários de telefone poderão ir para o site do Internet.org para acessar os serviços. Qualquer pessoa na Zâmbia com Airtel que tenha o aplicativo do Facebook para Android já instalado verá os serviços gratuitos Internet.org como uma opção do menu.

O aplicativo tem opções para executar pesquisas do Google, procurar informações da Unicef sobre saúde e higiene, procurar a rede da direita de mulheres chamada Wrapp, consultar o Zambia Ureport sobre o HIV/AIDS, visitar um site de empregos, usar eZeLibrary, e ( é claro) usar o Facebook e Messenger.

“Descobrimos duas principais barreiras para as pessoas se conectarem à internet”, explica Guy Rosen, diretor de gerenciamento de produtos da Internet.org. “ O primeiro é a acessibilidade. Conseguir um plano de dados é muito caro para muitas pessoas. A segunda é a conscientização. As pessoas não sabem o que eles poderiam ter ao entrar na internet.”

O aplicativo da Internet.org tenta abordar essas duas questões.  Enquanto você está apenas usando-o – e seus serviços limitados- não há cobrança de dados. A maioria das opções está focada em saúde, recursos legais e previsão do tempo (“Que é surpreendentemente útil se o seu sustento depende da agricultura”, explica Rosen). Na Zâmbia, por exemplo, há uma boa ênfase em serviços e saúde para as mulheres, e HIV/AIDS. Rosen diz que as experiências em Internet.org serão adaptadas para determinados países e regiões para seguir em frente. Por exemplo, nas Filipinas, um aplicativo da Internet.org pode incluir um sistema de alerta precoce de tufões.

O outro objetivo é mostrar às pessoas o que estão perdendo.  O aplicativo foi criado para servir como uma espécie de internet 101. As pessoas vão se familiarizar com ele e querer fazer “mais coisas” online do que o aplicativo permite. (Se alguém clica alguma coisa na Web, por exemplo, eles receberão uma mensagem que eles precisam ter um plano de dados para visualizá-lo.) O Facebook tem oferecido promoções similares em todo o mundo com seu programa Zero Facebook. Ambos, Facebook e os suportes de dados, terão muito sucesso com ele. Mas essas ofertas possuem um limite de tempo e se aplicam apenas ao Facebook. O novo aplicativo Internet.org estará disponível durante todo o ano e inclui todos os tipos de serviços. Se ele funciona para Airtel na Zâmbia e cria novos clientes de dados, você pode esperar uma expansão.

No Mobile World Congress, Zuckerberg comparou esse tipo de acesso limitado com o fato de você poder ter um telefone fixo que não tem serviço, mas que pode discar o 911.

“A ideia é que há um conjunto de serviços básicos que achamos que deveria existir”, disse ele, identificando mensagens, previsão do tempo, os preços dos alimentos, Wikipedia e aplicativos básicos que todos no mundo deveriam ser capazes de acessar facilmente.

E isso está acontecendo. E o plano é bem surpreendente. Mas também é um pouco preocupante. Estabelece uma internet para as pessoas pobres.

Dar livre acesso para pessoas que não podiam pagar é uma coisa muito boa. Sem dúvida. Indiscutível. Mas uma internet para as pessoas pobres que de alguma forma fornece menos acesso do que a internet a plenos pulmões que aqueles que leem isso desfrutam? Isso é preocupante. É uma outra divisão digital.

Quer dizer que este aplicativo é uma benção e achamos ótimo. Mas também esperamos que seja o primeiro passo de uma longa jornada para dar acesso a qualquer pessoa que o deseje – um acesso verdadeiramente democrático para a maior fonte de conhecimento e informação que o mundo já teve.

Este artigo foi publicado originalmente no Wired.com

A tradução é do aluno da ESPM – SP  Ian Perlungieri

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