Brexit: o futuro de uma nação autônoma

João Pedro Cirilo, Luca Ioni, Lucas Bastos e Pedro Trigo alunos do Jornalismo ESPM-SP 

A saída do Reino Unido da União Europeia, denominada de Brexit, abreviação de  “British  Exit”,  foi aprovada por meio de um plebiscito em 2016, com 52% do eleitorado favorável, e 48% contrários à separação. Esse resultado pode ser interpretado como uma falsa opinião do povo britânico, visto que a votação foi facultativa e somente 72% da população exerceram seu direito de voto.

Em sua grande maioria, as pessoas a favor do “leave” eram eleitores acima dos 65 anos, que também são a maior fatia votante, visto que 78% das pessoas nesta faixa etária votaram nas eleições de 2015. Enquanto isso, somente 49% dos votantes entre 18 e 34 anos foram às urnas, ou seja, tiveram uma larga desvantagem. Depois de perceberem os riscos que estavam se criando, 2,6 milhões de jovens foram se credenciar entre os dias 15 de maio e 9 de junho de 2016.

Grupos de IdadesMédia de IdadePermanecerSair
18-242164%24%
25-493745%39%
50- 645735%49%
65+7333%58%

Existem diversos motivos para que o Reino Unido cogitasse sua saída da União Europeia. Começando pela desconfiança dos britânicos perante as relações entre as nações que compõem a UE, segundo eles,  superficiais. Um dos acontecimentos que comprovam essa tese, foi a recusa por parte deles ao Tratado de Maastricht, que trocaria sua moeda oficial. Outro ponto, foi a escolha  por não fazerem parte do Espaço Schengen, onde liberaria a livre circulação de pessoas entre esses países.

Defensores pró-Brexit apostaram em uma pesada estratégia de marketing, alegando que, ao sair do bloco,  350 milhões de libras seriam aplicadas por semana na saúde pública dos cidadãos. Em contraponto, analistas da Autoridade de Estatísticas britânica viram essa promessa como  enganosa e totalmente fora da realidade. Mas mesmo assim, o argumento não perdeu sua força.

 A falta de controle migratório que a UE causava teve muita influência na formação das opiniões. A maioria dos políticos pró-Brexit usaram esse argumento como maior trunfo, tentando reforçar a ideia de identidade nacional e cultural. Isso acabou trazendo muitos eleitores de baixa renda, que tinham medo de perder seus empregos para imigrantes, visto que eles poderiam ser uma mão-de-obra mais barata e menos exigente.

Com a aprovação da separação, ficou nítida a ignorância do povo acerca do referendo. Segundo o Google, durante a primeira semana pós “leave”, a palavra “Brexit” foi a mais pesquisada por todo o planeta. Vale lembrar que, neste período, a Eurocopa, o acidente aéreo da Ryanair estavam em alta e,mesmo assim, esse ainda foi o principal assunto naquele momento, ficando a frente de personalidades influentes como Cristiano Ronaldo, Lionel Messi e Kanye West. 

Os benefícios do acesso ao mercado único europeu superam os custos da adesão europeia. Para cada euro investido, o Reino Unido recebe 10. Os britânicos contribuem anualmente para o orçamento da União Europeia, o equivalente a aproximadamente 378 euros por família. Contrapondo as propagandas amplamente divulgadas e favoráveis ao “Leave”, por exemplo, o repasse de 365 milhões de euros semanais a UE, que,  com uma votação favorável ao plebiscito, reverteram esses gastos na saúde pública inglesa, ponto de vista defendido pelo atual primeiro-ministro Boris Johnson. 

Na visão britânica, existem alguns possíveis benefícios em relação a essa saída. Como por exemplo, o comércio com os países da União Europeia, que de certa forma, deve se manter uma possibilidade de um acordo de livre comércio com esses países, sem interferências das leis do bloco europeu. Mas o principal ponto é a maior liberdade para negociar seus próprios acordos internacionais com o mercado chinês e o indiano, economias com crescimento vertiginoso.

Enquanto membro do bloco, é muito complicado para o Reino Unido controlar a imigração. A saída permite recuperar e aumentar os poderes nas fronteiras, além de reduzir o número de migrantes. Os favoráveis a mudança acreditam que tal situação vai gerar mais empregos para os trabalhadores nativos. 

Dessa forma, o país aumentará sua segurança pública, visto que poderá agir sozinho, sem restrições do bloco. Os britânicos deixam de serem obrigados a seguirem a Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, que possui o poder de decidir os poderes da polícia e das agências especiais britânicas. 

De acordo com uma pesquisa divulgada pela empresa Deloitte, 40% das multinacionais com sede na Europa haviam escolhido Londres para montarem suas sedes e escritórios. Seguidas da capital britânica, estão Paris (8%), Madri (3%), Amsterdã e Bruxelas, com 2,5% cada.  Com base nisso, pode haver um fluxo de empresas para outros países da União Europeia, afinal, como o Reino Unido está de saída, irão se apresentar uma série de outros aspectos em relação a questão tributária e aplicações de regras. Ou seja, por parte das empresas, pode favorecer uma migração para outras grandes capitais, dinamizando a economia dessas outras nações.

 Além disso, outro fator que escancara a falta de nexo no Brexit, é o fato de que boa parte da mão obra das fábricas é feita por imigrantes. Desde 2016, o Reino Unido sofre com a saída de imigrantes de seus postos de trabalho, deixando as empresas sem funcionários gerando dificuldades econômicas, que são simples de início, mas catastróficas ao longo prazo. 

Segundo o professor de graduação da ESPM-SP e economista Luis Carlos Berti, embora o Reino Unido faça parte de 15% do PIB do bloco, essa saída será positiva para o futuro da União Europeia: “A Inglaterra sempre foi uma espécie de freio na facilitação das negociações entre os países membros. Pode ser que o bloco econômico cresça cada vez mais e deslanche. Afinal, vai aumentar a interação e boa vontade entre os membros”.

O coronavírus está sendo um novo empecilho para que o Brexit seja implantado, visto que por volta de 1° de Abril, haviam cerca de 22 mil casos confirmados e quase 1,4 mil mortes no Reino Unido. Desta forma, o vírus se tornou a principal preocupação mundial, e deve concentrar  maior atenção do que o divórcio neste momento. Com isso, um plano de adiamento está sendo especulado. Na opinião de Berti, o coronavírus não deve causar grandes impactos no processo do Brexit, e afirma: “ Se o Reino Unido conseguir acelerar o processo de contenção do contágio e abrir gradativamente a economia, eles têm força econômica para fazer a economia crescer novamente”.

Quando perguntado acerca do futuro da nação, o economista não garantiu nada: “Tem que esperar para ver. Precisa de muito detalhe para entender os benefícios. Pelo fato de ter ganho Brexit com uma diferença tão pequena, não há uma uniformidade que isso possa ser beneficiado 100%”. 

O Governo britânico espera obter com a UE um acordo especial, semelhante ao da Noruega e da Suíça, que não fazem parte do bloco. No caso norueguês, os europeus não precisam de visto para morar ou trabalhar, mas precisam se registrar na polícia. Porém, essa possibilidade é pequena. 

Além disso, analistas temem que tudo isso pode levar a uma dissolução do Reino Unido, gerando crescentesmovimentos independentes. Exemplo disso é o caso da Escócia, que votou pela permanência no bloco, e pressiona cada vez mais por um novo plebiscito de independência. 

Com o divórcio temos um país adicional para negociar.  Mas a questão é, até que ponto haveria um aumento ou não do protecionismo, visto que vivemos em uma era dominada por esse sistema. Tudo isso acaba dificultando o fluxo de mercadorias, uma vez que os países irão proteger sua produção nacional, além de seus empregos. 

É um risco que vamos sofrer. Para os britânicos, a economia continuará sendo forte, mas os países vão poder negociar de forma mais ampla. Para nós, pode ser benéfico.  Mas, como no Brasil, o grosso de sua exportação continua com produtos primários, a situação não muda muito. 

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