Luana Cataldi, Maria Luiza Bacarin, Matheus Segato e Nicolas Garrido, alunos do curso de Jornalismo da ESPM-SP
O coronavírus, que começou na China em dezembro de 2019, tendo como epicentro a cidade de Wuhan, rapidamente se alastrou pela Europa e submeteu grande parte de seus países a tempos difíceis, principalmente aqueles cujo sistema de saúde não era tão desenvolvido. Alguns reagiram à ameaça mais rapidamente que outros, como a Alemanha e Portugal, por exemplo, e conseguiram controlar a eminente crise com mais facilidade.
O ucraniano Alexander Yankovsky, que estava morando em Viena no início de 2020, disse que o governo reagiu rapidamente e que o sistema de saúde austríaco já era bem desenvolvido. “Eles implementaram muita testagem bem cedo e, em geral, não houve uma propagação massiva de casos. Logo no início de março, o governo fechou a maior parte dos espaços públicos para que houvesse mínima propagação”, afirmou Yankovsky. Nesse contexto, seria de se esperar que a União Europeia providenciasse auxílio aos países que não conseguiram combater tão bem a epidemia, o que não aconteceu.
Essa ajuda veio da China, que não restringe suas relações apenas a países que aceitam seus costumes e comercializa com qualquer moeda. Ela mandou diversos equipamentos hospitalares, como máscaras e respiradores, e uma grande quantidade de médicos para a Itália e Espanha, países com maior número de casos registrados de coronavírus na Europa. No auge da pandemia, os italianos registravam aproximadamente mil mortes por dia.
Segundo a revista Der Spiegel, no final de maio a chanceler alemã Angela Merkel e o presidente francês Emmanuel Macron criaram um projeto de reconstrução da Europa chamado Next Generation EU, no qual planejam emprestar 750 bilhões de euros para os países com maiores dificuldades, sem que eles precisem devolver o dinheiro. Essa ideia é similar à do Plano Marshall, instalado pelos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial, com a mesma finalidade e valor monetário equivalente.
De acordo com o professor de geografia do Colégio Visconde de Porto Seguro, Rafael Capelari, a iniciativa é “extremamente válida” e a UE deve resistir ao impacto negativo da pandemia. “Acredito que seja uma forma de dar fôlego ao setor produtivo, seja ele o setor primário, secundário, e principalmente o terciário que foi o mais afetado. De certo cairá muito bem para as economias latinas: Portugal, Espanha e Itália”, opinou ele.
O principal objetivo da Alemanha e da França ao criar o projeto foi salvar a economia europeia. De acordo com um dos sites oficiais da União Europeia, o European Comission, “para proteger vidas e meios de subsistência, reparar o Mercado Único e promover uma recuperação duradoura e próspera, a Comissão Europeia propõe-se aproveitar todo o potencial do orçamento da UE”. Além do valor inicial que será disponibilizado para os estados membros, mais dinheiro será investido em países específicos de acordo com a necessidade de cada um. No final, o Next Generation EU contará com um orçamento de 1,85 trilhões de euros.
O plano será dividido em três pilares. Primeiramente, serão realizadas reformas em estados membros da União Europeia, concentrando forças naqueles que mais sofreram durante o período de pandemia. Em segundo lugar, o dinheiro será voltado para investimentos privados, dessa forma, auxiliando os países a retomarem sua economia e se inserirem novamente no Mercado Único europeu. Por fim, parte do dinheiro será aplicado no setor de saúde, tendo como base o aprendizado impulsionado pela pandemia.
O Reino Unido, porém, está excluído de qualquer assunto que o envolva em planos com a União Europeia. Em janeiro de 2020, após muitas discussões, plebiscitos e controvérsias, ele iniciou acordos para sair do bloco econômico oficialmente. Ainda assim, não é possível deixar de imaginar como teria sido a resposta dos britânicos ao coronavírus se eles estivessem escolhido permanecer no bloco econômico europeu.
Segundo Yankovsky, que morou na Inglaterra durante o Ensino Médio e mantém contato com amigos britânicos, o sistema de saúde inglês sempre foi bom e o fato dos britânicos conseguirem controlar suas fronteiras também ajudou a impedir a propagação do vírus vindo do exterior. Ainda assim, o ucraniano disse que: “sem a União Europeia, o Reino Unido terá bem mais problemas em se recuperar economicamente após a quarentena”, uma vez que ele não está mais inserido no Mercado Único que todos os membros do bloco têm acesso.
Tendo isso em mente, Capelari afirmou que a pandemia deu ênfase na necessidade dos países da Europa pensarem em conjunto. “Não vejo países querendo sair do bloco, pelo contrário. A Ucrânia, por exemplo, está querendo se aproximar”, afirmou ele. Além disso, o professor disse que o fim da UE significaria uma catástrofe para o cenário global. “A Europa ainda se mantém como concorrente das outras duas maiores economias do planeta, EUA e China. O fim do bloco poderia levar o mundo a uma outra crise econômica sem precedentes, por causa da conexão global econômica”, declarou.
Mesmo que a União Europeia continue sendo um bloco econômico próximo, com economias e lideranças integradas, ainda vai demorar um tempo para que as pessoas voltem a conseguir circular pela Europa da maneira que faziam antes. Em maio, alguns países já reiniciaram atividades comerciais e a prestação de serviços considerados não essenciais, ainda que mantendo o distanciamento social e as medidas de segurança. Apesar disso, a maioria das fronteiras ainda estão fechadas para estrangeiros e as que estão abertas têm o processo de imigração dificultado. As companhias de transporte, principalmente as aéreas, também sofreram enormes perdas econômicas com a pandemia, e precisarão se reestabelecer antes de retomar suas atividades como na época da pré-pandemia.