Um futuro cada vez mais incerto para os negócios internacionais

Gunther Rudzit

Os princípios do capitalismo de livre mercado e comércio internacional são a base da ordem econômica internacional desde o início da década de 1990. Essa ordem passou a ter o referencial da lógica do capitalismo norte americano, refletidos nos organismos internacionais responsáveis pelas agendas econômicas, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização Mundial do Comércio (OMC), conhecida popularmente como o “Consenso de Washington”.
O maior exemplo dessa lógica é a ascensão econômica da República Popular da China (RPC). Com a abertura da sua economia ao investimento estrangeiro em 1979, e posteriormente sua entrada na OMC, em 2001, fez com que centenas de milhões de chineses saíssem da extrema miséria.
Contudo, o efeito da admissão da RPC trouxe uma transformação gigantesca na lógica de produção dos manufaturados. Praticamente todos os setores intensivos em mão de obra transferiram suas fábricas para lá, provocando processos de desindustrialização em diversos países. Esta realidade teve efeitos políticos na mesma proporção, uma vez que atingiu principalmente os países desenvolvidos de economias maduras, afetando seus eleitores.
Com a crise econômica de 2008, que teve origem justamente nos Estados Unidos, e repercussões no mundo todo, em especial nos países desenvolvidos, a força do livre capitalismo e livre comércio começou a ser questionada. Questionada não só por países que não seguem completamente estes princípios, mas principalmente nos países desenvolvidos, resultando em movimentos nacionalistas e até mesmo xenófobos. Isto seu deu tendo em vista que os estrangeiros, tanto os imigrantes quanto trabalhadores de outros países, são vistos como que tiraram vantagem desse movimento liberalizante e “roubam” empregos deles. Esta realidade pôde ser vista claramente em vários países europeus e nos EUA.
Por isto mesmo, a eleição de Donald Trump não deveria ser uma surpresa, e muito menos as medidas protecionistas que adotou, em especial, contra a China. A chamada “guerra comercial” não é somente um movimento contra essa perda de postos de trabalho a fim de agradar ao eleitor do presidente, e sim um embate frente à ascensão econômica e política chinesa no mundo, que passou a dar apoio a diversos governos não democráticos. Ou seja, um novo modelo de organização político/econômico passou a competir por influência no mundo, um modelo que já recebeu o apelido de “Consenso de Beijin”, ou seja, a abertura controlada da economia e o controle político estreito de sua população.
Tanto isto se dá que estas medidas protecionistas não foram questionadas internamente pelo partido Democrata, muito menos por outros governos. Houve a convergência de percepção de que o Capitalismo de Estado chinês acaba tirando vantagem das empresas ocidentais, impondo a transferência de tecnologia para aquelas que queiram atuar em seu mercado, ou mesmo, sem garantir a propriedade intelectual em seu território. Há ainda a acusação de que as empresas chinesas acabam atuando em uma estrutura mundial de espionagem industrial articulada pelo seu governo, como é a acusação feita à Huawei, empresa de tecnologia, dentro do plano denominado “Feito na China 2025”, no qual o governo visa transformar o país no centro da inovação tecnológica do mundo.
Por isto mesmo, a nova tendência é a instabilidade como novo “normal” nas relações internacionais, uma vez que não há um consenso sobre como reformar a ordem econômica internacional.
E esta instabilidade tende a crescer nos próximos anos tendo em vista as mudanças que estão acontecendo no mundo dos negócios com o desenvolvimento da robótica (RB) e da inteligência artificial (IA) alterando as estruturas de produção em vários setores, agravando o problema do desemprego. Consequentemente, pode-se esperar que o nacionalismo e o protecionismo tentam a crescer, tendo impactos diretos no comércio internacional, afetando as empresas que já se internacionalizaram ou pretendam fazê-lo.

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