Sugestões para a composição de Resumos, Introduções e Considerações Finais de trabalhos acadêmicos

Christiane Coutheux Trindade e Guilherme Mirage Umeda

A escrita é sempre uma atividade de criação e, por isso mesmo, expressa o estilo de seu autor. Com a redação acadêmica não é diferente, e não se espera que ela se torne um exercício de esterilização do texto. Ainda assim, existem algumas coisas que tendem a ser comuns aos trabalhos, que acabam por compor uma espécie de conteúdo esperado. A sistematização abaixo leva em consideração a função de três partes fundamentais de um relatório de pesquisa (embora não sejam as únicas). Compusemos este material a partir das dificuldades mais comuns de nossos orientandos de TCC; compartilhamos agora no Nota Alta, esperando que ele possa auxiliar a todos que se defrontam com atividades de pesquisa na graduação. A ideia é que sejam produzidos textos que possam refletir aquilo o que é próprio do autor, mas ao mesmo tempo dialoguem com um leitor específico, envolvido com um certo modo de produção típico da academia.

(Uma discussão mais pormenorizada sobre cada componente é encontrada no Manual para Normalização e Apresentação de Trabalhos Acadêmicos, disponível em: http://portal.espm.br/uploads/ckeditor/attachments/1252/manual.pdf. No material, também se encontram as exigências quanto à formatação de cada item.)

 

  1. 1.       Conteúdo esperado para o resumo

Frequentemente, escutamos alguém afirmar que o resumo é a última coisa que se escreve no trabalho. Os pesquisadores mais inexperientes podem não compreender que, por trás de uma colocação tão simples, está um elemento importante para a divulgação dos resultados de uma pesquisa. Isso porque a principal função de um resumo é sintetizar a discussão feita ao longo da pesquisa e, para tanto, precisa passar concisamente pelos elementos fundamentais que ancoram a argumentação do texto. Destacamos que a organização das ideias pode variar, desde que não deixe de:

  • apresentar o universo temático da pesquisa;
  • expor o objetivo da pesquisa;
  • destacar alguns dados e aspectos teóricos que fundamentam a discussão;
  • observar as escolhas metodológicas realizadas;
  • marcar as principais descobertas da pesquisa de campo (ou empírica), quando houver;
  •  sintetizar as conclusões do estudo (mesmo que implique em selecionar apenas as mais centrais para compor esse trecho).

 

O resumo condensa em poucas palavras a proposta, o desenvolvimento e as descobertas da pesquisa. Como o conteúdo expressa elementos do começo ao fim do relatório, só pode ser composto ao final do estudo.

  1. 2.       Introdução

A introdução de um trabalho deve trazer o leitor ao contexto do tema discutido. Assim, ela deve ter como dinâmica fundamental a apresentação de elementos que permitam caracterizar o campo temático da pesquisa. É evidente que introduções podem trazer conteúdos muito diferentes e possuir extensões variáveis; no entanto, comumente encontramos os conteúdos abaixo discriminados em sua composição. Não necessariamente esses os conteúdos devem estar separados em tópicos; a organização do texto cabe a cada um, pois não só os trabalhos são únicos, mas também os estilos de redação podem imprimir diferenças.

 

  • Contextualização e explicitação do tema – temas não flutuam no espaço. Eles se encontram colados a uma série de fatos e conceitos que lhes dão significado, que os localiza espaço e temporalmente. A introdução é uma parte do trabalho em que a localização contextual do tema e sua clara definição se fazem essenciais, visto que todo o sentido da pesquisa estará referenciado ao universo mapeado. Que fenômenos atuais circundam o tema? Que conceitos são fundamentais na sua compreensão? Onde os fenômenos acontecem com maior frequência e por que? Estas são algumas perguntas que podem guiar a contextualização.
  • Delimitação do problema de pesquisa e dos objetivos – Um problema de pesquisa nasce a partir de um esforço de sistematização de nossas observações do campo temático, ou seja, ele é necessariamente um recorte derivado do tema. Surge, pois, como uma pergunta em decorrência da contextualização delimitada do tema. Já o objetivo primário (ou geral) de pesquisa não tem a estrutura de uma pergunta; antes, afirma aquilo o que se busca por meio da investigação. Os objetivos de pesquisa secundários (ou específicos), por seu turno, são especialmente interessantes pois são o espaço em que podemos destrinchar um pouco melhor o que se pretende obter como resultado. Não devem, contudo, ser muito ambiciosos (tanto em quantidade, quanto em qualidade), já que consistem em uma promessa ao leitor de que ele encontrará “tudo isso resolvido” ao fim do trabalho. Assim, precisam ser pensados como elementos importantes para que o objetivo principal seja alcançado.
  • Hipóteses ou Suposições – De caráter mais facultativo, elas podem ser apresentadas para indicar aquilo que se espera encontrar como resultado da pesquisa. Nesse sentido, funcionam como uma pré-resposta ao problema de pesquisa estipulado. As hipóteses são mais importantes para estudos quantitativos, inclusive porque podem ser estatisticamente testadas de modo a serem ou não confirmadas. Os estudos qualitativos, que tendem a trabalhar com a ideia de suposição, devem atentar com mais rigor para não se deixarem influenciar substancialmente pelas expectativas iniciais, voltando o trabalho apenas àquilo que as corroboram.
  • Justificativa – Qual a relevância do estudo proposto? Em que medida a investigação contribuiu para a sociedade e seus agentes (empresas, população, poder público…)? Como se insere dentro do debate intelectual da área de conhecimento (como contribui para o avanço gradual dos saberes do campo)?
  • Opções metodológicas – Em alguns casos, especialmente quando as escolhas metodológicas são simples, a discussão já pode aparecer na Introdução do trabalho. Podem também exigir um capítulo à parte, dependendo do modo como cada pesquisador pensa sua linha argumentativa.
  • Apresentação das partes do documento – É interessante que a introdução enuncie ao leitor o que ele encontrará em cada parte constitutiva do trabalho. Esta articulação demonstra a lógica por trás da construção dos conteúdos do trabalho. Com certeza, num primeiro momento isso não é tarefa fácil, já que o texto ainda está longe de estar completo, mas é preciso voltar a essa parte e completar a introdução conforme o trabalho avança.
  1. 3.       Conclusão ou Considerações Finais

                Se a introdução apresenta o contexto temático e os objetivos de pesquisa, a conclusão de um trabalho funciona como seu fechamento. Com isso, é fundamental que se retome a proposta feita na partida da pesquisa, a fim de que os resultados obtidos sejam avaliados. Em caso de formulação de hipóteses, por exemplo, importa agora observar se foram refutadas ou corroboradas pela investigação. Por essa razão, pode ser importante fazer uma releitura da introdução, buscando estabelecer diálogo entre as duas partes. Como uma espécie de balanço final, deve conter:

  • uma síntese dos principais achados teóricos e empíricos;
  • possíveis implicações e contribuições a partir das descobertas;
  • limitações da pesquisa – tudo aquilo que representou empecilhos ao desenvolvimento do estudo ou que restringe o alcance dos resultados.
  • desdobramentos da pesquisa – sugestão de algumas possibilidades de investigação a partir daquilo que se descobriu.

 

Vale ainda dizer que a conclusão tem o potencial de ser um dos momentos mais livres e autorais da pesquisa, oferecendo uma riqueza de reflexões que o autor lança a partir da jornada que empreendeu.

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