Fabio Pereira de Andrade
Poucos assuntos econômicos suscitam tanta polêmica quanto sanções. Na conjuntura atual sobram informações desencontradas e especulações acerca dos conflitos aplicados à Rússia. Possivelmente, a controvérsia e uma certa predileção por modelagem explicam a baixa mobilização da obra de John Maynard Keynes. Em que pese o risco de anacronismo e da diferença conjuntural, a análise de Keynes sobre a Conferência de Paz de Paris e o Tratado de Versalhes pode iluminar o contexto atual.
Publicado em 1919 “As Consequências Econômicas da Paz” combinam análise, crítica e prognóstico acerca dos acordos de paz pós Primeira Guerra Mundial. A pergunta que pode ficar é: como um livro escrito há mais de 100 anos, sob outro contexto pode ajudar na compreensão do cenário atual? Podemos construir o seguinte mapa:
– Keynes argumenta que o papel das Lideranças norte-americana, francesa e inglesa foi fundamental para a má redação do acordo. Em especial, destaca que a postura do Presidente americano era marcada pela lentidão e pela sujeição às pressões do eleitorado. Especificamente, apesar de certa áurea internacional, no campo de negociação Woodrow Wilson titubeava e com isso mostrava fraqueza! Podemos estender esse paralelo às lideranças ocidentais? Em especial, vale o paralelo com o John Biden?
– Keynes mostra que durante a Conferência os termos mudaram rapidamente, no início não se pleiteava impor a Alemanha qualquer indenização. No entanto, os interesses de França e Inglaterra escalaram rapidamente, migrando para uma combinação de uma indenização impagável e punição exemplar das autoridades alemãs. Na conjuntura atual a escalada das sanções econômicas é uma realidade?
– No campo da análise e prognóstico, Keynes se preocupou com os efeitos das punições sobre a população alemã! Especificamente, o representante britânico na Conferência temia que tais sanções alimentassem um sentimento de revanchismo na população alemã, bem como, que o vácuo de lideranças ferisse de morte a infante democracia alemã. No contexto atual, há reflexão acerca dos efeitos sociais das sanções sobre a Rússia? Os analistas demonstram preocupação com o recrudescimento da autarquia russa?
– Keynes alerta sobre os riscos ligados à impossibilidade de pagamento por parte da Alemanha. Em uma hipotética derrota Russa, os custos de reconstrução da Ucrânia seriam repassados? A Rússia conseguiria arcar com tais custos?
– Por fim, Keynes argumenta que há efeitos econômicos adversos das sanções não se limitariam a Alemanha, pelo contrário, se estendiam à Europa dada a importância da economia Alemã. Considerando a importância da Rússia para matriz energética da Europa. Há possibilidades de que as sanções contribuam para um transbordamento para toda Europa?
Esse é um mapa de questões que podem ser construídas a partir da obra de Keynes, as dúvidas suscitam elementos para análise do conflito atual. Os pontos destacados podem contribuem para iniciar sobre o limite entre sanções para a paz e os insumos para Guerra. Nesse limite há de se destaca um fator excepcional e exclusivo da conjuntura atual:
– O papel primordial da China, seja em uma solução negociada diplomática; seja na extensão da conjuntura atual, no qual a China não apoia as sanções e, por isso, estende seu papel privilegiado no fluxo de capital com a Rússia; seja em apoiar abertamente os objetivos russos e com isso pavimentar o caminho para uma Guerra Mundial.