Kleber Mazziero de Souza
Quando Shakespeare decretou a questão dos nomes como fora de somenos, (JULIETA – “A flor que chamamos de rosa, se outro nome tivesse, inda teria o mesmo perfume; assim é você Romeu. Se outro nome tivesse, ainda assim teria a mesma perfeição que tem agora.” ROMEU – “Chame a mim somente de amor, e serei novamente batizado e jamais serei Romeu outra vez.”), as notas musicais já contavam quase 600 anos de vida de suas respectivas nominações.
O monge Guido D’Arezzo, que viveu entre o final do século X e o início do século XI, batizou aquelas 12 sonoridades com os nomes pelos quais as conhecemos até hoje: DÓ – RÉ – MI – FÁ –SOL – LÁ – SI e seus respectivos sustenidos e bemóis.
Funcionário da Igreja Católica, o regente do coro da catedral da província localizada na região da Toscana deve ter raciocinado de modo prático: como há melodias cujas durações das notas são pequenas e os estudantes da paróquia devem solfejar os exercícios musicais, nomes curtos; uma sílaba. Quais sílabas?
As primeiras sílabas do Hino a São João:
Ut queant laxis
Resonare fibris
Mira gestorum
Famuli tuorum
Solve polluti
Labii reatum
Sancte Ioannes
Numa tradução livre: “Para que teus grandes servos possam ressoar claramente a maravilha dos teus feitos, limpe nossos lábios impuros, ó São João”.
De modo pragmático, o monge evitou a sílaba “San” da palavra “Sancte” e optou por juntar o “S” (de Sancte) ao “I” (de Ioannes).
No entanto, restava um problema: “Ut” dificultava sobremaneira o solfejo. A sílaba deveria principiar pela consoante e findar pela vogal.
O monge, então, substituiu “Ut” por DÓ, a primeira sílaba da palavra que sucedia o Hino a São João no ritual católico de então: Dominus.
Um monge prático, que praticamente definiu a nomenclatura da “Linguagem Universal”, a Música.