Por Cesar Veronese, Professor do CPV Vestibulares
A presidenta Dilma Rousseff criticou a espionagem do governo americano, circulou anônima pela Big Apple e depois resolveu fazer uma visita ao MOMA, para conferir uma mostra ainda não inaugurada do pintor surrealista belga René Magritte.
Entre a informação, a piada e o veneno, a imprensa se regalou nos trocadilhos com a arte surrealista. Para citar só um exemplo, O GLOBO, na sua edição de 27.09, informou que na ausência da presidenta “Lula concedeu entrevista afirmando ‘estar de volta ao jogo para a desgraça de alguns’. E isto não é surrealismo”.
Nas entrelinhas de comentários desse tipo lê-se que o surrealismo é fantasioso, sonhador, joga com o impossível… André Breton, um dos téoricos do movimento, disparou, entre tantas frases de efeito, que o surrealismo promovia o encontro de uma máquina de costura com um guarda-chuva em cima de uma mesa de cirurgia.
Por trás dos disparates teóricos e/ou consumados nas obras de arte, o certo é que Breton e seus companheiros sempre jogaram com a fantasia, porém não de modo gratuito e sim de olho num horizonte concreto. O surrealismo promove o cruzamento do real com o onírico com a intenção de romper “a camisa de força da razão”. Daí as obras não circunscreverem um sentido ou uma mensagem explícitos, mas tão somente procurarem instigar a percepção para outros possíveis.
A ciência nos ensina que temos três modos de conhecer o real: o uso direto dos sentidos, o conhecimento indireto a partir de instrumentos como telescópios ou microscópios, e um modo mais indireto, que são os modelos do que poderia ser real. Ocorre que a economia e as finanças hoje se orientam quase exclusivamente por modelos. Em outras palavras: os economistas e analistas financeiros afirmam que os modelos dão conta da realidade.
Por isso nos deparamos diariamente com manchetes (ou piadas?) sobre o risco-país. Em pontos. Que sobem e descem como o coaxar do sapo cururu. “O risco-país do Brasil diminuiu 100 pontos, o risco-país da Grécia disparou 500 pontos…” E os imensos recursos naturais do Brasil? E a pesquisa científica de ponta das grandes universidades brasileiras? E a força criativa dos gregos, que há 25 séculos sobrevivem num país de pedras e vento?
Contra os modelos dos Chicago Boys e as mentiras construídas nos departamentos de economia de Harvard, Cambridge e Oxford (ver o documentário TRABALHO INTERNO, de Charles Ferguson), viva o surrealismo. Com um pescador grego de cachimbo à boca acomodado numa das conchas do Congresso Nacional dentro do plenário da ONU!
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