O que sobrará da Operação Margem Protetora em Gaza?

Sidney Ferreira Leite

A ação em Gaza apresenta dois grandes vencedores: o governo Netanyahu e o Hamas e, uma grande derrotada: a possibilidade de paz, construída sobre uma base política de negociação, minimamente sólida. Os extremos, dos dois latos em litígio, estão mais fortes e tratam a paz, como um detalhe a ser desconsiderado.

Para o então frágil gabinete de Benjamin Netanyahu, a Operação Margem Protetora conseguiu, entre outros aspectos, desviar a atenção da sociedade israelense dos problemas econômicos e financeiros que país vive, especialmente, nos últimos três anos, como o aumento do desemprego e questões, até então impensáveis em Israel, como o crescimento dos homeless. Nas últimas eleições, o tema da crise econômica foi o prioritário na agenda de interesses do eleitor; preocupado em superar as agruras financeiras do cotidiano. Todavia, os mísseis do Hamas colocaram o tema da segurança no topo das preocupações dos cidadãos israelenses e, nesse tema, Netanyahu consegue fazer crer, com certa eficiência, ser o mais capaz, entre os políticos israelenses, fiador da segurança de Israel.

De fato, a Operação Margem Protetora trouxe índices de popularidade bastante confortáveis para o governo; aproximadamente 85% da população declarou apoio à decisão governamental de invadir e ocupar a Faixa de Gaza. Urge destacar que Netanyahu somente conseguiu formar o seu gabinete, construindo um arco de alianças que faria os últimos cinco governos brasileiros sentirem-se envergonhados. Agora, Netanyahu pode convocar novas eleições e consolidar-se no poder, com um governo que tenha, de fato, uma base de apoio sólida.

O segundo vencedor da Operação Margem de Proteção é Hamas. O grupo que nasceu de uma dissidência da Irmandade Muçulmana em Gaza, durante a primeira Intifada, em dezembro de 1987, vinha perdendo, de forma acelerada, a sua popularidade na região, seja pela total falta de resultados políticos significativos para a causa palestina, pelo agravamento das questões sociais ou mesmo, pelas acusações de corrupção. O fato concreto é que não tinha mais a popularidade que o levou a grande vitória sobre o Fatah, nas eleições realizadas na Faixa de Gaza, em janeiro de 2006. A debilidade do grupo ficou nítida quando, no início de 2014 fez uma aliança com o Fatah, em busca de sobrevivência política, face ao isolamento e inércia dos últimos dois anos. Todavia, depois de Operação Margem de Proteção, o cenário é diferente. O Hamas voltou a ser o líder na Faixa de Gaza, capaz de galvanizar o ódio de vingança, diante das inúmeras vidas ceifadas, especialmente ao longo do mês de julho. Em outras palavras, permanece forte e, com legitimidade para levar a cabo uma nova Intifada e, provavelmente, já começou a rascunhar desenhos para a construção de novos túneis.

Nessa senda, a suposta segurança conquistada com a operação é objetivamente e, apenas, uma arma de manipulação ideológica. Caros leitores, não tenham dúvidas, diante do exposto, a paz na região está mais distante e, a única solução viável para alcançá-la, isto é, dois Estados para duas nações, está irremediavelmente obliterada pelo cheiro de pólvora que está no circulando no ar das ruas da Faixa de Gaza.

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