O passeio de Papai Noel

Cézar Veronese, Professor do CPV Vestibulares

Não adianta insistir. Este ano ninguém ganhará presente. Precisamos economizar para sanar as contas da Petrobrás, ajudar o paupérrimo estado de São Paulo a construir um novo reservatório de água e, sobretudo, ensinar aos pais das criancinhas a serem menos tolos e não gastarem uma grana preta com brinquedos de marca vagabundos como aquele cavalinho pink com cara de espantalho.
Digo outra vez. Não entregarei presentes a ninguém. Quero, como aquele poeta francês maldito, ser um flaneur, circular por aí sem compromisso, vendo o que fizeram do Natal. Na Paulista, pela 276a vez, decoraram. a fachada do Conjunto Nacional com garrafas pet. Mas reconheço que, pela primeira vez, fizeram algo de bom gosto: pessegueiros em flor, com as corolas desabrochando em luzes rosa-púrpura.
O presépio, no hall do mesmo prédio, também conseguiu escapulir das tradicionais babaquices. Construíram um presépio de arquitetura oriental, em esplendorosos amarelo e vermelho. Maria com feições orientais e José com traços da virilidade de Latino América. United People of Jesus.
De resto, as árvores em espaços públicos e nos jardins das casas e edifícios continuam a decoração jibóia. Metros e metros de luzinhas idiotas asfixiando os troncos dos pobres vegetais. Será que as pessoas que fazem isso sabem que árvores também têm galhos, ramos e folhas?
O mais deprimente, no entanto, está no interior dos shoppings e lojas de departamentos. Aquelas praças com carruagem, renas ,falsos presentes e o Papai Noel atacado pela colmeia das criancinhas que querem tirar foto, passar a mão, puxar a barba, fazer pedidos, levá-lo embora, quando não que ressuscite o poodle que tentou pegar a bolinha de tênis no espaço aéreo da janela do 18.o andar!
Quero que todas as criancinhas (e pais das criancinhas) saibam que deveriam pentelhar menos o Papai Noel dos espaços públicos. Ele não é um velhinho que viajou na first class da Scandinavian Airlines ou da Britsh Airways para fazer gracinhas nos trópicos. É, sempre, um pai de família desempregado, um fillho que precisa bancar a farmácia da mãe (os programas do governo disponibilizam só os remédios baratinhos), ou até mesmo um estudante enforcado com a mensalidade em atraso da “Universidade” que o selecionou com prova agendada.
Por isso ele virou Papai Noel de shopping e grandes redes de lojas. Para fazer um bico. Com a nada cristã obrigação de se cozinhar dentro de uma roupa mais quente que o caldeirão de Satã. Só volto a dar presentes se puder circular de sunga e chinelão e sem o melado com chantilly da “Noite Feliz”. Quero um som de Tim Maia e o baile do Zeca Baleiro!
Para ler outros textos do Professor Veronese, acesse blog do CPV (link Dicas Culturais do Verô)

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