O Mestre dos Gênios (Dir.: Michael Grandage. Reino Unido, EUA, 2016)

Eduardo Benzatti

“Genius” é a cinebiografia de Max Perkins (1884-1947) – editor nova-iorquino que “descobriu” novos talentos literários como F. Scott Fitzgerald, Ernest Hemingway e Thomas Wolfe. Ambientado a maior parte do tempo na Nova York das décadas de 20 e 30 (logo, retrata também o período da Grande Depressão) o filme foca na relação de amizade (e mútua admiração) entre o (austero) editor e o (atormentado e genial) escritor Thomas Wolfe (1900-1938).

Perkins (Colin Firth) passa (no filme) a maior parte do seu tempo tentando induzir Wolfe a cortar milhares de palavras dos seus primeiros romances, “Look Homeward, Angel” (1929) e “Of Time and the River” (1935) – nesse último, o embate entre escritor e editor demorou dois anos, pois Wolfe (Jude Law) não parava de escrevê-lo. Ambos fomos sucessos de crítica e vendas.

Perkins trabalhava na centenária editora “Filhos de Charles Scribner”, ou simplesmente “Scribner” – no filme retratada como um lugar um tanto escuro e frio, ou seja, o reflexo exterior da personalidade de Perkins durante o tempo em que passava na mesa do seu escritório cortando e cortando palavras (além de, em alguns casos, também substituir algumas) dos inúmeros manuscritos que lhe chegavam as mãos. Outra parte da sua vida se passava no trem entre Nova York e a localidade vizinha em que morava com a sua família (esposa e filhas – não teve filho). Nesse ambiente – mais feminino – o editor permitia que outro lado (mais humano e caloroso) se externasse: uma brincadeira com as crianças, uma piada com a esposa, o encontro com amigos. A casa aparece como o lugar dos afetos, ainda que nesse caso também fosse o espaço da extensão do seu trabalho: nela Perkins continua a ler os manuscritos dos (possíveis) romances que editaria, mas nela ele não corta (edita) as palavras dos originais.

As coisas mudam ao conhecer Wolfe – e seus escritos -, pois Perkins parece encontrar no escritor o filho que não teve e um amigo muito próximo para conversar não somente sobre literatura, mas também sobre outros temas: a vida, mulheres, música. A relação irá se deteriorar com tempo, mas antes que isso aconteça, o diretor nos presenteia com cenas dessa amizade singular belissimamente fotografadas numa Nova York do início do século passado que – apesar das desigualdades, crise econômica, etc – já se configurava como uma das cidades mais cosmopolitas do mundo, recebendo imigrantes de todas as partes do planeta (A cena dos dois amigos olhando a cidade do alto de um dos seus prédios semiabandonados é deslumbrante!).

Não foram poucas as vezes que cinema e literatura se encontraram – muitos filmes também retrataram esse encontro de forma magnífica. Em “Genius” o que vemos é mais um exemplo que deu certo. Uma arte homenageando a outra – nesse caso não me refiro apenas ao Cinema e a Literatura, mas a Amizade e a Generosidade (assim com maiúsculas)

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