O Professor Alexandre Uehara (Coordenador do Núcleo de Estudos em Negócios Internacionais e Diplomacia Corporativa – CBENI & DiC) entrevistou o professor Masachika Suzuki[1] sobre a diplomacia corporativa e a agenda ESG no desenvolvimento sustentável nos negócios. O especialista em inovação e desenvolvimento de tecnologia a partir de energia limpa tratou sobre o impacto da agenda ESG (Environmental, Social and Governance) sobre as estratégias de negócios das companhias na atualidade.
I – Qual é a importância que os cidadãos japoneses atribuem ao SDG e ESG no Japão?
Prof. Suzuki. Desde a adoção da palavra SDG em 2015, tenho a impressão de que ela vem sendo difundida rapidamente nas empresas e na sociedade. Cada vez mais os cidadãos em geral também reconhecem o termo SDG. Por um lado, muitas empresas divulgam o SDG relacionando-o ao seu empreendimento, mas em muitos casos para os cidadãos em geral é difícil distinguir se realmente essa empresa está engajada no SDG. É necessário um sistema no qual não seja feito o “Green washing” ou “SDG washing”. Sobre o ESG, com o conteúdo do relatório do TCFD (Task Force on Climate-Related Financial Disclosures), a pressão para a divulgação de informações sobre mudanças climáticas nas empresas está aumentando. No Japão, desde que o Government Pension Investment Fund (GPIF), que opera os fundos de pensão no Japão anunciou que os investimentos seriam vinculados ao índice ESG em 2017, a difusão nas entidades investidoras e empresas está sendo ampliada ainda mais rapidamente.
II – E no caso das empresas, qual é a importância atribuída ao SDG e ESG no Japão? Há mudanças que podem ser percebidas nas atitudes e políticas das empresas?
Prof. Suzuki. O interesse na descarbonização e no SDG de empresários em geral é alto. As empresas estão se reorganizando internamente para atender aos temas do SDG, ou algumas vinculam a avaliação de seus funcionários com o seu engajamento ao SDG.
III – Na sua avaliação quem é o sujeito, ator principal para os avanços do SDG e ESG no Japão, são os cidadãos, as empresas ou ainda o governo?
Prof. Suzuki. .Em relação ao SDG, acredito que as empresas, principalmente as de marketing e consultoria tem um grande papel para difusão aos cidadãos. No Japão, o papel da GPIF e de investidores é grande, ainda, o TCFD e investimentos avançados de países desenvolvidos como os da União Europeia fazem pressão externa exercendo influência internamente para os investimentos em ESG.
IV Quais seriam os exemplos de impactos/influências concretos nos negócios no Japão? É possível se falar em elementos tangíveis e intangíveis?
Prof. Suzuki. Há muitos exemplos de impactos/influências concretas e não seria possível listá-las uma a uma, mas muitos são ligados à inovação e desenvolvimento de novos produtos com investimento considerando o ESG e engajado com SDG. Ainda, mesmo não sendo novos esforços no Japão relacionados ao SDG, desde muito tempo atrás alguns valores e filosofia como o “mottainai” (evitar o desperdício) ou o “sanpou yoshi” (satisfação em três vias – bom para o vendedor, para o comprador e para a sociedade) dos comerciantes dos períodos Edo e Meiji conhecidos como “oumi shounin” são pensamentos que podem ser utilizados na atual administração.
V – As empresas japonesas têm tido uma priorização de temas de investimentos e incorporação de temas relacionados SDG e ESG no Japão? Quais seriam as prioridades e por quê?
Prof. Suzuki. De acordo com os resultados de pesquisas relacionadas a ESG realizadas com entidades que administram e fornecem consultoria em ações que a GPIF realizou, os temas prioritários são: alteração climática, divulgação de informações, atendimento a escândalos, administração da cadeia de suprimentos e diversidade.
VI – As preocupações das empresas japonesas se comunicam com o mercado internacional? As cadeias de suprimento podem ser afetadas? E sendo o Japão um importante mercado às importações do Brasil, o senhor considera que é possível as empresas no Brasil não dar atenção aos temas SDG e ESG? Por quê?
Prof. Suzuki. Quando os investimentos em ESG forem os principais investimentos no mundo, as empresas japonesas também serão pressionadas a atender os investidores estrangeiros que consideram a performance socioambiental das empresas na hora do investimento. Ainda, tendo como exemplo o óleo de palma, está começando a ser fundamental para o consumo e varejo saber qual foi o cuidado socioambiental na fase de sua produção.
VII – O senhor acha que a partir da experiência do Japão em relação a esses temas, haveria uma semelhança de ações que poderiam ser aplicadas pelas empresas no Brasil? E sabendo que não é possível investir em todas as áreas temáticas do SDG e ESG simultaneamente, o senhor apontaria que haveria uma priorização mais adequada para o Brasil?
Prof. Suzuki. Devido às condições de cada país, acredito que para cada circunstância haverá uma priorização. Sobre as questões globais do meio ambiente, como alteração climática e a biodiversidade, o efeito pode ser em escala global, portanto em muitos países são alguns dos temas de máxima prioridade.
[1] Masachika Suzuki is a Professor at Graduate School of Global Environmental Studies at Sophia University. The area of his research interests includes clean energy technology innovation and development, sustainable finance and banking, and sustainable tourism and community development. He received Ph.D. from Erasmus Universiteit Rotterdam in the Netherlands and MAs both from Columbia University in the US and Keio University in Japan. Apart from the academic career, he has work experience in the field of environmental and energy consultancy. The positions include senior analyst positions at Mitsubishi Securities in Tokyo and Innovest Strategic Value Advisors in New York as well as consultant positions at the UN headquarter (UN DESA), the United Nations Framework Convention on Climate Change (UNFCCC) and UNU’s Institute for the Advanced Study of Sustainability (UNU IAS).