O Filho de Saul (Dir.: László Nemes Hungria, 2015)

Eduardo Benzatti

Para quem gosta de bom cinema ir assistir ao filme que venceu o Grande Prêmio do Júri do mais recente Festival de Cannes torna-se uma obrigação. “Filho de Saul” (do diretor László Nemes) é o tipo de “filme-porrada” – daquele que você sai do cinema deprimido, mas refletindo sobre a pobre condição humana. Nesse sentido, torna-se necessário vê-lo para nos certificarmos que o Regime Nazista foi uma loucura (coletiva) que não pode se repetir.

A história é a do prisioneiro Saul (Géza Röhrig) que faz parte de uma daquelas “equipes de trabalho”, formada por judeus para auxiliarem os soldados nazistas nas operações de extermínio dos outros judeus nos campos de concentrações. O protagonista é de uma expressividade dura e forte que captura o olhar do espectador já na primeira cena: o diretor utiliza o recurso de focar somente os personagens do segundo plano (ao fundo de Saul), depois vai aproximando o foco para o primeiro plano e chega bem próximo do rosto do prisioneiro para nesse enquadramento permanecer quase todo o tempo.

Isso causa um efeito de realismo que incomoda a quem assisti ao filme, pois a situação angustiante de Saul é assim vivida muito de perto – efeito ainda mais reforçado com o recurso da câmera nas mãos tremulando o tempo todo (alguns longos “planos-sequência” são filmados dessa forma). Como se o desespero de Saul – que acredita ter encontrado entre os mortos na câmara de gás, o seu próprio filho (isso é real ou fantasia?) – em procurar um rabino para dar um enterro digno a essa criança fosse o mais importante e o mais humano a fazer no meio de toda aquela desumanidade extrema.

O fato de milhares de judeus estarem sendo mortos das formas mais cruéis – das mais organizadas e sistemáticas até as mais desorganizadas -, não toca mais aquele “operário” de uma engrenagem monstruosa (que, de tempos em tempos, exterminava até mesmo esses “trabalhadores” judeus recrutados para enganarem seus próximos encaminhando-os para a morte, embora prometendo que sobreviveriam como prisioneiros) que só quer um lampejo de humanidade naquele inferno.

Se você acha que já viu em outros filmes sobre esse período histórico até onde foi a barbárie nazista (como era todo o processo da chegada dos prisioneiros nos campos de concentração até a eliminação do resto de seus corpos – as cinzas), garanto-lhe que irá se comover e se assustar com as cenas: os gritos, os tiros, os sons de uma histeria coletiva que mais lembra o inferno de Dante. Vá vê-lo, mas vá preparado a desacreditar na humanidade.

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