Rose Mary Lopes
Tempos de crise. Testam mais do que a persistência e resiliência dos empreendedores: colocam à prova sua capacidade de se reinventar e a seus negócios. Para sobreviver precisam gerar melhores soluções com menos recursos para atingir suas metas. Criar, inovar é palavra de ordem.
Economizar? Sem dúvida! Mas, que não seja economia burra e que mate a capacidade gerativa da organização de propor novas saídas. Mais do que nunca é preciso ter time azeitado, coeso, alinhado, comprometido. Com motivação para dar mais de si! Este componente – pessoas – juntamente com conhecimento, fará toda a diferença.
Vai definir se a empresa fará a travessia do mar, a pé enxuto. Ou se soçobrará nas ondas revoltas deste mar. Aliás, o mar brasileiro ficou ainda mais revolto a partir de anteontem, com o rebaixamento do país na comunidade financeira internacional. Aliás, eram favas contadas.
Afinal, parece que nossos gestores públicos estão colecionando pérolas para um Manual de Anti-Gestão! Que serve como o avesso ou a imagem invertida do que os verdadeiros gestores e empreendedores tem que fazer para gerir seus empreendimentos. Vamos lá para algumas destas máximas de anti-gestão:
Em tempos de bonança trate os resultados, o dinheiro que entrar no negócio de forma descuidada. Pois, o mercado está aquecido mesmo, seu negócio tem muitos clientes, e eles estão com recursos e vontade de compar. Assim, gaste mesmo. Altere a estrutura, o organograma de sua empresa. Crie novos departamentos. Contrate mais pessoas.
Não tem problema se a estrutura ficar um pouco grande, inchada. Você e seu negócio estarão prontos para o que der e vier. Já terão pessoas para todos os assuntos. Nem se preocupe em fazer benchmarking com empresas e negócios parecidos. Afinal, eles podem não ser tão criativos e avançados quanto seu negócio!
Pode ser que não tenham tanta coragem para inovar na estrutura e tanta vontade de admitir mais colaboradores, principalmente aqueles que tenham um alinhamento de ideias similares com as suas. E, não se preocupem tanto com a repercussão social de seu negócio: se você emprega mais gente, este já é um grande retorno para que seu negócio dá para a sociedade!
Sobre metas: ora para que definir metas??? Não seriam as metas meras quimeras, inalcançáveis, como nuvens que se esfumam assim que se tenta chegar perto delas? Se elas têm esta natureza de se esvanecer no ar, de se tornar distante por mais que se esforce para chegar perto delas, então, decrete que não precisará ter metas!
Afinal, quando chegar nela – ufa, até que enfim – você celebrará e decretará que, agora sim, terá que chegar no dobro desta meta! Quando? Não precisa definir prazo, nem responsabilidades. O seu negócio é o negócio do futuro. Ele chegará, com certeza! Quando atingir, estará louco de bom!
Não fique preocupado com a verba de treinamento e educação. Afinal, você está num país que é a pátria educadora. Ela já faz de tudo, educa e treina como ninguém! Só os países da OECD que não sabem. Afinal, nossa pedagogia e métodos de ensino são tão únicos que os testes e métricas aplicados por estes países não conseguem captar o desenvolvimento de nossos alunos.
Não fique obcecado com o controle de despesas. Nem com o balanço de resultados. Se tiver algum desbalanceamento, se não tiver ideias onde cortar e como adequar as despesas com a geração de receitas, você poderá apelar para o Conselho da empresa. Eles examinarão as suas projeções de orçamento e lhe darão ideias do que fazer.
Principalmente no lado de aumentar os preços dos produtos e serviços que sua empresa produz. O cliente, o mercado deve pagar mais, sem chiar. Afinal, é um privilégio poder comprar de você! Sua clientela é cativa, é fiel. Não vai mudar de marca, nem de fornecedor. Eles não têm alternativas!
E, se precisar tapar os buracos das contas: não tem problema. Basta ir ao banco e solicitar empréstimo. Ou financiar o que precisa adquirir. Sua empresa sempre foi boa pagadora. Tem boa reputação. Certamente o gerente e o banco vão ficar mais do que felizes em lhes atender neste momento.
Porém, não se assuste quando, no caminhar da carruagem, ao apresentar seu demonstrativo de resultados, seu balanço, seu banco e o gerente reconsidere se lhe vão emprestar mais dinheiro. Ou de lhe conceder mais financiamentos. E quando lhe exigir mais garantias. E, que mesmo assim, subam os juros para níveis estranguladores!
Aí, você acordará de seu sonho, e verá em que triste realidade se meteu, e em que encrenca colocou o seu negócio. Verá que sua reputação/ a de sua empresa ficaram mais baixas do que o nível do Mar Morto. E, que nem os clientes acreditam mais em vocês. E, que, aqueles que puderam, já fugiram para outras plagas!