Por Luciano Segura, professor do Intergraus Vestibulares
Há alguns anos, foi lançada, no Brasil, a “Cartilha do Politicamente Correto e Direitos Humanos”. A mídia, em especial, e diversas autoridades no assunto criticaram a elaboração do texto. Com o objetivo de proteger minorias, a Cartilha propunha algumas soluções linguísticas no mínino curiosas.
Publicada em 2004, trazia pérolas como: “Ladrão – atualmente, o termo é mais aplicado a indivíduos pobres. Os ricos são preferencialmente chamados de “corruptos”; o que demonstra que até os xingamentos têm viés “classista”. Com isso, sugeria que não se chamasse o ladrão de ladrão. A lista (longa) pode ser encontrada em : http://www.awmueller.com/deposito/politicamente_correto.pdf.
Assim, algumas palavras, como mulata, judiar e denegrir, e certas expressões, como farinha do mesmo saco, Maria vai com as outras e menor infrator, deveriam ser evitadas, para que o respeito na sociedade fosse pleno. Infelizmente, leis, sozinhas, não mudam a mentalidade do país. É preciso que haja, todo mundo sabe, educação e cultura. A Cartilha foi recolhida e banida.
Percebeu-se, entretanto, que a sociedade, minimamente, foi adotando algumas posturas, com o passar do tempo, que se inclinam para esse politicamente correto – expressão que ganhou, infelizmente, sentido jocoso e negativo. Se, nos tempos áureos de Gil Gomes, calhorda e safado serviam para identificar aquele que havia cometido crime, hoje acusado e suspeito dominam, acertadamente, a linguagem jornalística. Viciados tornaram-se usuários ou doentes. Mesmo durante as manifestações ocorridas na cidade recentemente, baderneiros foi sendo substituído por manifestantes e, finalmente, cidadãos. A mídia percebeu qual lado ganhava força e se reposicionou.
Sobre isso, aliás, ocorreu algo curioso num dos telejornais da Record. O jornalista afirmou que os envolvidos em crimes (depredação, furto de lojas, agressões) não faziam parte dos manifestantes e teriam sido infiltrados no movimento. Certamente não deviam fazer parte, mas infiltrados seria a melhor escolha? Em breve, a sociedade deverá indicar se a escolha foi ou não acertada. Isso talvez prove que a essa mesma sociedade pode definir seus próprios limites e que, principalmente, apenas a lei não é suficiente para mudar a mentalidade de um país.