Língua viva – Emprego de palavras estrangeiras

Por Marleine Paula Marcondes e Ferreira de Toledo
Recebi, nesta semana, um e-mail, que registra, entre outros, os seguintes dados:
“Fulana de Tal, coordenadora do…; autora de … livros, inclusive o bestseller…; keynote speaker; professor…de marketing…influente no twitter…; rankeada pela…entre os… mais experts em tecnologia no mundo; …rankeada entre os 50 Marketing Blogers… “

E por aí vai.
Observe-se o emprego, no texto, de elevado porcentual de palavras estrangeiras. Errado? Não. Até porque algumas delas estão de tal forma entranhadas em nosso cotidiano, que as pessoas, às vezes, nem lembram que são de outra língua.
Qual o motivo, então, de eu citar a mensagem?
Em razão de apresentar três problemas:
1. Se o autor(a) quis ou necessitou utilizar as palavras importadas, que as colocasse em destaque, fazendo uso de itálico ou aspas ou similares (caso de best- seller, keynote speaker, marketing, twitter, marketing blogers).
2. Não precisaria daquele expert, porque temos, em português, vocábulos de uso corrente, como “especialista”, “experto”, “profissional”, “perito”, “técnico”, “entendido”, entre outros. Ainda mais: inúmeras pessoas pronunciam a palavra à inglesa, e não à francesa (expert \ekspeR/), como deve ser.
3. Agora, o que não cabe mesmo é aquele hibridismo “rankeada” .
Pelo Novo Acordo Ortográfico, as letras k, w e y incorporaram-se ao alfabeto da língua portuguesa, que perfaz 26 letras, com uma forma maiúscula e outra minúscula. O emprego delas, entretanto, só se aplica nos seguintes casos: a) em nomes próprios, originários de outras línguas e seus derivados: Franklin, frankliniano; Darwin, darwiniano; Byron, byroniano; b) em siglas, símbolos e palavras adotadas como unidades de medida de uso internacional: TWA,KLM; K – potássio (de kalium);W – oeste (West); kg – quilograma; km – quilômetro; kw – kilowatt; yd – jarda (yard); Watt.; c) na sequência de uma enumeração: a), b), c),…, i), j), K), l),…t), u), v) w), x), y), z).
Assim, não se justifica a forma “rankeada”, hibridismo condenável (preso a rank, ranking, do inglês)”, uma vez que temos, em português, o adjetivo participial “ranqueado”, de “ranquear” (“ranque+ar”), todos com -q- . Também, aqui, vale o que foi dito em relação a expert: para que usar o termo importado, se há, na língua portuguesa, palavras absolutamente equivalentes como, por exemplo, “colocada”, “classificada”, “considerada”?
P.S.: E-mail, surgido em 1982, parece que veio para ficar, com prejuízo do vernáculo “correio eletrônico”.

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