Informação não estruturada, priorização de projetos ou desafios de logística?

Por Cléber Figueiredo e Fabiano Rodrigues

Sim, esses problemas possuem solução. Não importa que a informação esteja espalhada nas redes sociais, nos tweets, ou mesmo em uma série de depoimentos espalhados pela internet. Ou que seu problema seja alocar recursos para uma série de projetos em que não se sabe o melhor portfólio, ou mesmo, que se queira priorizar algum grupo de projetos. Ou ainda que sua empresa tenha um problema de logística fechado dentro de um ciclo em que seu produto ora volta para a sua mão ora está em campo.

Esses foram os destaques do II Seminário de Modelagem Quantitativa promovido pela ESPM em parceria com a StatSoft South America, no último dia 28 de maio, que coincidiu com o Ano Internacional da Estatística e, quase, com a margem de erro de um dia, com o dia do estatístico, comemorado no dia 29 de maio.

A chamada do evento sugeria a apresentação de cases de sucesso para a resolução de problemas e otimização dos resultados. Esse foi o espírito das discussões da noite. Aliás, esse é o espírito da modelagem quantitativa: tomar decisões e superar desafios, utilizando modelos matemáticos, estatísticos e algoritmos.

Em resumo, a primeira discussão se referiu à gestão de portfólios de projetos de uma empresa de energia, apresentada pelos professores Roberto e Thomaz Camanho. O problema consistia na presença de uma série de projetos (especiais estratégicos e de melhoria e renovação), um montante de recursos e não saber o que fazer nem com os projetos e nem com os recursos.  A sugestão da dupla de professores foi utilizar o método multicritério para priorizar o grupo de projetos especiais estratégicos, que possuíam alta criticidade ou impacto no negócio e alto potencial de geração de mudanças. Em outra etapa, a sugestão foi utilizar metodologia de otimização baseada em programação inteira para priorizar o grupo de projetos de melhoria e renovação, que, por sua vez, consistiam de alta criticidade ou impacto no negócio e baixo potencial de geração de mudanças.

Não é simples modelar o problema, pois a questão envolve muitas variáveis, sistemas de equações lineares, restrições e muitas derivadas (e o SOLVER disponível em planilhas do EXCEL não suporta um problema com esta dimensão). O gestor não imagina quanto conhecimento de cálculo está por trás de tudo isso, mas uma coisa parece clara: é preciso tomar uma decisão.

A segunda boa “encrenca” discutida foi a utilização de mineração de texto, text mining, para organização e resumo de informação, que é a extensão natural da mineração de dados, ou data mining, uma tecnologia que depende muito de metodologia estatística, como regressão múltipla, regressão logística ou análise de correlação. No entanto, é necessário ter uma integração criativa de todos esses métodos e das tecnologias de ciência da computação, que envolve a inteligência artificial e o aprendizado sobre máquinas, para tornar o data ou o text mining efetivos.

Os cases resolvidos com a ferramenta de text mining foram apresentados pelo Sr. Nuno Cruz, especialista em gestão de projetos analíticos da StatSoft. Em um deles foi apresentado como uma empresa pode realizar a análise de sentimento de uma marca. Para isso, precisa converter Big Data em informação. Há muitas bases não estruturadas de dados, como textos da web, do twitter, ou do facebook que precisam ser convertidos em dados numéricos para que se entenda que tipo de comentário é feito da marca, da sua popularidade ou mesmo do conjunto de menções negativas.

Grosso modo, o que se faz é extrair palavras e conteúdos textuais positivos, negativos ou neutros e encontrar a matriz de frequências com que aparecem associados a uma marca e seus concorrentes, por exemplo. O próximo passo é tentar realizar uma análise fatorial dessa matriz de frequências para encontrar quais são as duas direções mais relevantes, determinadas pelos dois maiores autovalores, a fim de se colocar toda essa informação textual em um diagrama de duas dimensões e de fácil visualização. Quando tudo está lado a lado no mesmo gráfico, fica fácil saber que expressões são as mais e as menos associadas à determinada marca.

Ao finalizar as discussões do II Seminário de Modelagem Quantitativa, o Sr. Rudolf Flunger apresentou como um sistema dinâmico, sim, um sistema de equações diferenciais, desses que são rodados, por exemplo, nos softwares VENSIM e POWERSIM, pode ser utilizado para se entender a lógica que está por trás de um problema de logística fechado: o tal do Closed Loop Logistics! No problema apresentado, uma empresa de TV por assinatura precisava entender o caminho que era feito pelos decoders. Alguns chegam às residências com defeito e retornam à empresa devido à garantia, outros, mesmo com defeito, são direcionados para outros fins e um seleto grupo de decoders pode, ainda, ser renovado pela aquisição de novas tecnologias pelos assinantes. Há outros caminhos, mas os três apresentados possuem uma taxa de acontecimento. Essa taxa é que gera a dinâmica do sistema, composto por fluxos e estoques. Cada caminho gera uma equação. Encontrar a solução desse problema é encontrar a solução desse sistema dinâmico.

O interessante de se simular a partir de um sistema dinâmico é mostrar os possíveis caminhos existentes, quando se consegue controlar uma ou outra variável (análise de sensibilidade). O simulador mostra os diferentes cenários e serve como um exercício para a tomada de decisões.

Ao fim, o seminário buscou transmitir, não só ao mercado, mas também à comunidade acadêmica e científica, que a marca ESPM vai além da Propaganda e do Marketing, embora sejam essas as nossas especificidades. A proposta procurou fortalecer a missão da escola, que é a de atuar em diferentes áreas do management, oferecendo à sociedade caminhos para o aperfeiçoamento profissional.

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