Rose Mary Lopes
Nas férias, em Dezembro, fui a Gramado (RGS), atraída pelas festividades do Natal Luz. Já em sua 28ª. edição. A cidade torna-se um parque temático em torno do Natal, de sua simbologia, de sua tradição. Luzes, cores, decoração, espetáculos, entretenimento, pontos com atrativos especiais. Sobretudo o apelo enorme exercido pelo velhinho de barbas brancas e vestido de vermelho (versão criada pela Coca-Cola em cima da figura do Arcebispo São Nicolau Taumaturgo). O Papai Noel chega a ser mais enfatizado do que o próprio aniversariante – Jesus.
A cada ano o público responde aumentando o número de turistas que para Gramado acorre. Turistas domésticos e do exterior. Na Fábrica de Brinquedos na Aldeia do Papai Noel (Parque Knorr) há livro de visitantes em que se tem registros dos turistas do país e de diversas partes do mundo.
Na atual versão a programação foi de 01 de Novembro de 2013 a 12 de Janeiro de 2014. Alternando ofertas de espetáculos gratuitos com muitos outros pagos. Todos os dias os turistas se encantam com o espetáculo do acendimento das luzes, e se aglomeram em frente à Igreja Matriz de São Pedro.
A Parada de Natal alegra as tardes, com banda, caravana de personagens, Mamãe e Papai Noel. Na rua coberta vários shows livres de quaisquer ônus: desde a famosa Árvore Cantante (coral de vozes infantis e bailarinas) a musicistas, cantores e bandas. As Renas Decoradas e a Rua dos Quebra Nozes são espetáculos permanentes – dia e noite.
A Vila de Natal, além de expor as peças dos artesãos gramadenses, oferece seis tipos de espetáculos com músicos, cantores, corais, clowns e atores, além do próprio Papai Noel.
A decoração das ruas – adornos, árvores e luminárias (com aproveitamento de garrafas pets coletados pela comunidade durante vários meses do ano, num projeto iniciado em 2002), além da decoração das lojas, hotéis e pousadas compõem um cenário mágico.
Este é ampliado por meio de vários shows pagos. Os ingressos já são ofertados pela internet já a partir do mês de março. Tanto os turistas quanto agências de turismo e intermediários os adquirem (dando margem a um mercado paralelo obviamente, visto que a demanda daqueles que somente decidem na última hora existe; quem lá chega não quer deixar de ter a oportunidade de assistir a algum deles). Assim, tem-se o Nativitaten, o Grande Desfile de Natal, o musical Fantástica Fábrica de Natal, o Natalis (espetáculo sobre o nascimento de Jesus com projeções em gigantescas telas de água) e o espetáculo teatral Korvatunturi.
E, como isto tudo nasceu? Graças ao impulso empreendedor: algumas pessoas que pensaram em alternativas para as festas já promovidas pela cidade para garantir o fluxo de pessoas fora do inverno. Aliás, enfrentar a sazonalidade é um problema comum para muitos empreendedores e cidades no país.
Em 1986, o então Prefeito Pedro Bertolucci mais Luciano Peccin (empreendedor de família que possui hotéis), Secretário de Turismo, que se inspirou nas luzinhas enfeitando as casas que vira numa viagem à Disney, resolvem promover a decoração da cidade e criar um espetáculo. Na época o Maestro Titular Eleazar de Carvalho, da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, é convidado e se envolve com o projeto e criou um concerto com um coral de 500 vozes. Este primeiro evento foi realizado na frente da Igreja de São Pedro.
Daí houve uma evolução para um coral de 2001 vozes, em 1989, com crescimento de público. O sucesso obriga a procurar outro local, pois a frente da igreja não comportava mais.
Assim, o Grande Concerto passou a acontecer em torno do Lago Joaquina Rita Bier, permitindo o uso de telões para projetar mensagens de Natal mais os efeitos de raio laser.
Adicionam-se outras atrações à programação. Surpresas são adicionadas a cada ano. Em 1994 a Árvore Cantante foi criada. E, também a Chegada do Papai Noel.
Começa-se a ter o problema de como distribuir a vinda dos turistas que se concentravam para os dois Grandes Concertos em dezembro. A virada conceitual ocorre em 2001 quando se concebe a cidade como um parque temático, com vários atrativos oferecidos diversas vezes.
Recriam-se as atrações e a decoração Até o falecido Joãzinho Trinta (grande carbavalesco já falecido) é convidado para criar o Grande Desfile. Um grupo local cria o 1° Nativitaten – show musical sincronizado com fogos de artifício. Consequência: aumento da capacidade de obtenção de patrocínios para financiar os novos projetos para emocionar as pessoas.
Um calendário cíclico semanal das atrações é gerado em 2002, duplicando o número de apresentações. A seguir se bebe da cultura local com o Natal Gaúcho – um mix de canções natalinas com o folclore – dança e música – gaúcho. A programação já alcança dois meses.
O show diário de Acendimento das Luzes, bem como o musical A Fantástica Fábrica de Natal surgiram em 2006.
O crescimento da programação impõe a necessidade de se profissionalizar tudo: desde a coordenação geral como a comunidade, por meio de planejamento e organização anual e capacitação. A venda online dos ingressos também surge nesse ano de 2007.
Em 2008 se criam, entre outros, a experiência de área VIP e do Tapete Vermelho e as Paradas de Natal. Já se atingiam 500 apresentações durante 60 dias do Natal Luz.
Marca-se 2009 com um projeto de busca dos talentos da própria comunidade, e 200 alunos recebem bolsas para a Escola de Artes, e 90% deles passa a incorporar o elenco dos eventos. Acrescenta-se mais uma semana ao calendário, atingindo 67 dias.
Muita coisa acontece entre os diversos empreendedores que organizam os eventos: infelizmente batalhas legais foram iniciadas com acusações de malversação de dinheiro, beneficiamento de pessoas e empresas, e também de cobrança pelos criadores dos espetáculos dos direitos autorais sobre eles.
Batalhas judiciais à parte, todos da cidade e da região se beneficiaram. Desde a hotelaria, restaurantes, lojas, empresas de turismo receptivo, artesanato, a produção de chocolate, a indústria de confecção. Diversos museus e pequenos parques temáticos foram criados. No ano de 2013 surge, por exemplo, o primeiro parque de neve da América Latina.
Ficam aí as lições: o importante é que os interessados – empreendedores e políticos – pensem o que podem criar para atrair os turistas para a sua cidade. Mesmo se começando pequeno, um espetáculo, um dia, se for feito com paixão, os próprios resultados vão impulsionar o crescimento das oportunidades. Vide os exemplos das festas juninas em Caruaru (PE), Campina Grande (PB), o festival de inverno em Campos do Jordão (SP) e a FLIP em Parati (RJ).